Esta é uma expressão recorrente desde que fomos surpreendidos pela pandemia. Estamos envoltos no campo da incerteza. É difícil lidar com o fato de não poder controlar minimamente o que nos aguarda. Esse desejo parece paradoxal, mas faz parte do imaginário humano. A eminência de uma catástrofe nos desestabiliza emocionalmente. Queremos segurança e, se possível, liberdade. Embora muitas situações estejam fora do escopo pessoal, precisamos alimentar a ideia de ter em nós a ingerência de um tempo ainda por vivenciar. A partir desse embate tentamos perscrutar as razões responsáveis por desconsiderar o presente no qual estamos instalados. Há quase dois anos tateamos no escuro. Entre a expectativa da melhora e sucessivas frustrações. A ciência, caminhando de mãos dadas com a razão, vem sofrendo ataques descabidos, numa espécie de retorno ao obscurantismo. E isso nos autoriza a dizer: a estupidez apenas cochila, despertando ao primeiro sinal de acolhimento entre nós.
Embora essa instabilidade esteja gerando angústia e ansiedade, podemos ver nela aspectos positivos. As pessoas estão fazendo menos apostas para os próximos anos, por exemplo. Sinto nos meus colegas e amigos um ímpeto de usufruir as benesses diante deles. As expectativas encurtaram seu prazo de validade. Então, aproveitemos já, amanhã pode ser tarde demais. Essa é uma percepção francamente filosófica. E quão admirável seria se acontecesse longe da coação imposta por esse momento de suspensão das esperanças. Somos animais inclinados a se projetar. Segurar as rédeas, olhando com cuidado para o que está diante e não à frente de nós, pode trazer consideráveis benefícios. Sou estudioso e admirador confesso do estoicismo. Seu núcleo central repousa sobre alguns pilares com a força da eternidade. Passados dois mil anos vemos seus ensinamentos ressurgirem pelas redes sociais. É um recurso válido para instigar um grande número de seres a ponderar sobre seus destinos. E entre eles destaca-se o conceito de a existência nunca ser curta, mas simplesmente bem ou mal vivida. E o pêndulo se inclinará para o lado de quem sabe esgotar com serenidade não o porvir, mas o agora, também em períodos de calmaria.
Saibamos, portanto, extrair lições para o bem viver. A manutenção do cuidado de si e a prática da generosidade precisam ser um norte. Nada pode ser retido, pois caminhamos distraidamente sobre o efêmero. As paisagens mudam e a história nos mostra que a capacidade de adaptação pode nos assegurar a plenitude, mesmo envoltos pela sombra de inimigos invisíveis. Muitas vezes resistimos, lutando contra a correnteza. É uma atitude distanciada da sabedoria. Busquemos nos abastecer dos horizontes, mas com os pés colados no chão. A vida é um instante. Inscrevamos isso nos murais da alma.