35 anos. O tempo passa, o tempo voa, já dizia uma antológica peça publicitária que marcou história na tevê brasileira. Quem viu, lembra dela. Para se ter ideia do que são 35 anos, basta projetar onde você estará em 31 de maio de 2059 – ou em 1º de junho de 2059, novo mês que se inaugura neste sábado, deixando esse maio terrível para trás. Foi o exercício que não fiz quando cheguei em Caxias do Sul em 31 de maio de 1989. Nem cogitei de fazê-lo. Em geral, aplicamos o mandamento de Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu.” Se tivesse feito o exercício da projeção do tempo naquele último dia de maio de 89, quando cheguei com uma mala grande na mão na Estação Rodoviária de Caxias no meio da tarde, certamente não imaginaria o enredo que, no meu caso, ofereceu-me a faceta da continuidade, do vínculo com a cidade e com a comunidade.
Esperava-me o saudoso motorista Paulo Franzen, já falecido. Levou-me ao Pioneiro, lá na sede antiga, na Jacob Luchesi, dando início a uma trajetória de 35 anos, que teve apenas um hiato de um ano e quatro meses em 1995 e 1996. Mas logo retornaria. Naquele dia mesmo, editei minha primeira página do Pioneiro, onde desenvolvi minha relação profissional mais profunda e visceral. Dali em diante, foram muitas histórias e emoções, centenas de colegas e o acompanhamento jornalístico do dia a dia de Caxias do Sul e da região. A RBS entraria na história logo depois, em 1993. Uma das nuances que mais me gratifica na trajetória que me trouxe até o dia de hoje é que, o tempo todo, todo dia, tive a oportunidade de estar na trincheira do jornalismo diário, no exercício editorial cotidiano.
Praticamente não havia asfalto em Caxias, quando cheguei. Na Sinimbu, o trânsito era em duas mãos até a Treze de Maio. Quer dizer, ali era cenário do caos. Havia o Calçadão na Praça Dante, que tornava a cidade mais humana. Saudoso Calçadão! Havia os cinemas Central, Imperial, Vêneto, e o Ópera e sua edificação histórica ainda resistiam. O Teatro de Lona era espaço de tantos shows inesquecíveis. O Voo Livre, um bar que marcou história na Vinte, tem espaço especial. Houve perdas e ganhos, como assim é a vida.
Peço licença para essa pequena referência pessoal, pois o momento é de agradecer. Caxias do Sul me foi generosa pelo acolhimento, o Pioneiro desde o início e a RBS logo depois ofereceram-me o espaço profissional. Também transitei pelas rádios Caxias e São Francisco. Agradecimento especial a todos os colegas, que me fizeram crescer. Obrigado, Caxias. Não imaginava ser esta a cidade em que por mais tempo vivi. Mas assim quis a vida, e está sendo bom. Está sendo um privilégio e uma honra.
O tempo passa, o tempo voa. 2059 é logo ali.