O presidente Jair Bolsonaro não falou muito – cerca de 2 minutos – em sua primeira manifestação após a derrota nas urnas, no domingo, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente. Na foto, Bolsonaro chegando para o pronunciamento, no Palácio da Alvorada. Demorou 45 horas desde que o resultado foi oficializado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por volta das 20h de domingo. Dois minutos, porém, não é pouco tempo para identificar os eixos, as ênfases e as palavras principais da manifestação do presidente. Na prática, Bolsonaro reconheceu o resultado das urnas sem dizer que reconhecia. Também não reconheceu a vitória de Lula, não mencionando nenhuma vez o nome do adversário.
Ao agradecer aos 58 milhões de votos, a primeira frase de sua breve declaração, reconheceu a contabilidade eleitoral que elegeu Lula. Na sequência, chamou de “movimentos populares” os atos de protesto à eleição de Lula que, desde o domingo à noite, bloqueiam rodovias, porém, desautorizou o “cerceamento do direito de ir e vir”.
– As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir – disse na mensagem lida.
Bolsonaro transmitiu o recado que o contexto impunha. A situação dos bloqueios e manifestações ameaçava persistir e sair do controle, com prejuízos inclusive a apoiadores do presidente, pela obstrução e obstáculos às atividades econômicas. Bolsonaro, então, tratou de reconhecer as manifestações pacíficas como um ato de "indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral", mas orientou para a desobstrução das rodovias.
O problema é que alguns manifestantes e caminhoneiros, que, em grande maioria, estão à frente desses movimentos, fizeram outra interpretação, pela continuidade dos atos, que Bolsonaro disse serem “fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”. Tanto é que obstáculos em rodovias continuam a surgir aqui e ali em estradas da Serra.
Resta ver se os bloqueios persistirão trancando rodovias, como ainda persiste aqui e acolá em rodovias da região, a partir dessa leitura própria dos manifestantes de continuar com os atos, mesmo com a desautorização presidencial. E resta ver também quais serão as posturas de instituições como o Supremo Tribunal Federal e órgãos de segurança para garantir e manter a desobstrução das vias.