A Polícia Civil do Paraná concluiu que a morte de um petista por um bolsonarista em Foz do Iguaçu não foi crime político. Independentemente disso, está claro que a desavença que resultou no evento morte teve origem em uma diferença política inconciliável. Posto esse aspecto, era inevitável um desfecho assim, tristemente, em algum momento. Até no Japão, onde as diferenças costumam ser conduzidas em outro nível pelos japoneses, reconhecidamente glaciais no temperamento, foi o que se viu: um ex-primeiro ministro tombou abatido pelas costas.
Já o Brasil ferve, a menos de três meses da eleição, com enfrentamentos, provocações e ataques já materializados, inclusive com bombinhas de excrementos. Necessário lembrar, para fins de contexto e precisão, a facada no então candidato Jair Bolsonaro na eleição anterior.
Estaríamos condenados à inviabilidade da convivência entre diferentes, em qualquer campo da vida, em especial na pré-eleição, com ânimos e ideologias à flor da pele? Está claro que não é assim, um determinismo fatal. Essa falta de habilidade para reconhecer e respeitar as diferenças e o diferente, que descamba para a agressividade e o enfrentamento, surge em um ambiente construído com esforço e dedicação, de licenciosidade e estímulo à violência como um método popular de eliminação de conflitos, ou, bem antes dos conflitos, como tentativa de eliminar diferenças. No caso do Paraná, vítima e autor da morte, que também foi atingido em reação, eram agentes de segurança, a quem é facultado e familiar o manuseio de armas. Mas é um exemplo do que ocorre quando há o despreparo psicológico.
Quando a arma está ao alcance da mão, facilitados o acesso e a proliferação, não há controle sobre o que pode acontecer, como também se viu por aqui na morte de um jovem em um ginásio de esportes esta semana, registrada em vídeo. Gente despreparada, mais uma vez, acessou uma arma, que estava ao alcance. Claro que se reconhece a utilidade e as finalidades possíveis de uma arma, bem como a opção pessoal para seu uso. Este colunista já teve a vida salva pelo manuseio adequado de uma arma por quem estava perto e sabia fazer. O que é dispensável é favorecer um ambiente de estímulo a métodos que apostam no enfrentamento e no conflito. O popular gesto da arminha favorece esse ambiente, e é totalmente desnecessário. Ao contrário, precisamos apontar para o desarme de espíritos em cada gesto, para o acolhimento, para o reconhecimento e o respeito às diferenças. A fraternidade é saudável e tranquila.
Por ora, segue difícil a convivência e há desfechos trágicos à espreita. Mas tem salvação.