Chama atenção o extremo cuidado de 11 vereadores, a metade da Câmara, para emitir uma opinião sobre os diálogos que seguem sendo divulgados por The Intercept, Veja, Folha de São Paulo e o jornalista Reinaldo Azevedo, na Band News. Os diálogos comprometem especialmente o ex-juiz e atual ministro Sergio Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato pelo Ministério Público Federal, procurador Deltan Dallagnol.
Os vereadores pisam em ovos. Chegam ao “radicalismo” ao dizer que, “se a denúncia for confirmada, quem deve julgar o fato é a Justiça”, como respondeu Edson da Rosa (MDB). Isso é evidente. Além dos 11, outros quatro entendem que os diálogos não atropelam o devido processo legal. Esses opinam.
Entre os seis que entendem que, sim, os diálogos atropelam o processo legal, pelo menos uma resposta, a do vereador Rafael Bueno (PDT), foi extraída quase que a fórceps, pela reportagem, depois de insistentes tentativas. Bueno se limitou a dizer: “Acho que a tentativa foi de interferir no processo.”
Ficou explícito o temor demonstrado por pelo menos 12 vereadores (os 11 que pisam em ovos, mais Bueno) em manifestar opinião. Ora, os vereadores podem e devem assumir suas posições, sem receio. É salutar para a democracia, é honesto com seus eleitores, é transparência. Já há um conjunto factual que permite juntar diversas pontas e emitir opiniões, com domínio de contexto e das informações, que é o que se espera de vereadores e não declarações tímidas, que jogam a bola para a Justiça.
Os pedetistas
A posição de Bueno e de Gustavo Toigo são contrárias à da principal liderança pedetista em Caxias do Sul, Alceu Barbosa Velho (PDT), que é de defender a Lava-Jato. Os dois entendem que, no caso dos diálogos, houve atropelo ao devido processo legal. Em se tratando de temas políticos mais polêmicos e espinhosos, a liderança pedetista mais lúcida na Câmara tem sido Gustavo Toigo.
Aliás, o PDT caxiense segue sua sina de partido dividido: Ricardo Daneluz e Velocino Uez alinham-se com Alceu.
Regras do jogo
O mérito do debate em torno dos diálogos vazados entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores, em especial Deltan Dallagnol, deve centrar-se nas regras do jogo, no respeito ao processo legal. É isso o que precisa estar garantido.
A situação do ex-presidente Lula contamina o debate, porque politiza e grenaliza. O debate é muito mais amplo, é sobre respeito às regras do jogo.