O título da coluna não tem erro de digitação, é uma liberdade estética com a sigla A.I. — Artificial Intelligence — ou I.A., Inteligência Artificial em português. Sem dúvida, é um dos grandes temas da nossa época e foi o assunto da sessão número 424 do Órbita Literária, com curadoria do editor Germano Weirich e participação mais que especial de vários expoentes intelectuais de Caxias do Sul.
Foi enriquecedor conversar sobre I.A. num debate franco, aberto, em que as muitas dúvidas não são vistas como falta de conhecimento ou insegurança, em que as poucas respostas sejam fruto de estudo de casos reais e o diálogo transcende para o aspecto filosófico da tecnologia. É um alento quando isso acontece, porque, infelizmente, as discussões sobre IA parecem ter sido sequestradas por dois tipos insuportáveis: de um lado, um bando de charlatões arrogantes que se acham os únicos entendidos no assunto e querem lucrar com a onda do momento; de outro, gente desesperada pregando que a Inteligência Artificial vai tornar os humanos obsoletos.
Vamos começar pelos tais “lordes da inovação”, em sua grande maioria meros papagaios midiáticos que só repetem o que ouvem em eventos internacionais descolados (e caros) como SXWS e South Summit e em TED Talks. Posam de disruptores, quando na verdade apenas resumem o que os legítimos inovadores estão fazendo lá fora, sem realmente criar e inovar por aqui. Vestem um look cuidadosamente pensado para parecerem jovens e modernos, se colocam sob os holofotes das redes sociais para falar o que qualquer um já leu ou já ouviu semanas antes no X ou no YouTube como se fosse uma grande novidade. O pior desse tipo de gente é subestimar a inteligência alheia e achar que está a frente de todos, quando no melhor dos casos está apenas ali do lado, talvez até um pouco atrás porque, como diz o ditado, “a arrogância é o prenúncio da queda”.
Finalmente, temos a turma dos desesperados e apocalípticos que acham que é o fim dos tempos, que as máquinas vão dominar o mundo, que haverá demissões em massa e os seres humanos se tornarão inúteis. A I.A. não veio para substituir ninguém, mas chegou para transformar saberes e fazeres. É um inegável avanço tecnológico enquanto ferramenta de escrita, de tradução, de programação, de design, de criação. É uma revolução semelhante à chegada do computador pessoal, que levou a informática para os lares das pessoas comuns quando, nas décadas anteriores, só existiam em grandes corporações capazes de manter aqueles computadores gigantes da IBM, verdadeiros mastodontes do tamanho de uma geladeira. Tornar a computação um item doméstico foi uma revolução que criou o tempo e as condições em que hoje vivemos.
Ainda não se sabe ao certo para onde vai essa revolução da Inteligência Artificial, mas uma coisa é certa: precisamos manter a originalidade, a curiosidade, a ética, a reflexão e, principalmente, a humildade diante de mais uma façanha humana.