Quando vi essa expressão “Neno” pela primeira vez, até achei que tinha a ver com nosso termo do Talian, antigo dialeto dos imigrantes italianos e, atualmente, considerado língua. Mas não é bem isso: segundo o IBGE, Neno é um código que usam para designar aquele tipo de jovem que não estuda, nem trabalha. Conforme resultados divulgados recentemente pelo IBGE, 369 mil gaúchos com idade entre 15 e 29 anos se enquadram nesta categoria. Sinceramente, acho um número preocupante: como é que pode alguém em plenas condições de saúde, na flor da idade, simplesmente optar por não fazer absolutamente NADA o dia inteiro?
Eu já acho meio limitante o fato de que um jovem apenas estude e não trabalhe até se formar. Muitos saem do colégio adolescentes direto para a universidade, fazem um ou dois cursos de graduação, depois uma pós-graduação e talvez até mestrado. Passam grande parte da juventude dentro da bolha acadêmica, o que é extremamente danoso ao processo de amadurecimento, porque vivem uma quase total desconexão com o mundo real, ou pior, enxergam o mundo de um jeito completamente distorcido, maquiado.
Durante o processo de formação e de qualificação, um dos principais problemas de quem só estuda é a falta de resiliência: quando finalmente se formar e ingressar numa empresa ou passar a exercer sua atividade profissional, será um jovem adulto sem os necessários recursos para se recompor e se reerguer depois dos inevitáveis problemas e fracassos pelos quais todos nós passamos logo no primeiro emprego. Quase sempre são indivíduos meio frágeis que perderam a grande oportunidade de se tornarem “cascudos”, de criar uma rede de contatos, de conviver com mentores e conselheiros, de aprender a ter responsabilidade e empatia, de saber se posicionar no mundo real.
Por mais cansativo que seja, trabalhar e estudar ao mesmo tempo molda o caráter de uma pessoa, ajuda a crescer e a se desenvolver, não só como profissional, mas também como ser humano. Um ponto negativo nisso talvez seja o fato de que muitas escolas, faculdades e empresas parecem querer dificultar ainda mais a vida de quem é estudante num turno e trabalhador noutro. Muitas vezes, tomam atitudes que parecem querer castigar o jovem com dupla jornada em vez de encorajar seu esforço imenso. Esse é um ponto importante: como amparar um jovem determinado? Como dar suporte?
Um dos maiores choques culturais que tive na vida foi quando fiz um mês de intercâmbio em Londres. Eu tinha 25 anos, estava concluindo a faculdade e tinha dois empregos. Meus colegas europeus — belgas, holandeses e dinarmaqueses — ficaram horrorizados quando contei que trabalhava desde os 16 anos. “Mas você fez faculdade desse jeito?”. Sim, fiz. E não me arrependo nada. A profissional e, principalmente, a pessoa que sou hoje deve muito àquela guria esforçada que fui. E agradeço a cada professor e a cada chefe que me incentivaram nessa jornada dupla. Por isso tenho muita pena dos Nenos, como tive dos europeus bundões: havia uma janela de oportunidades fechada para eles. Mas sempre dá para abrir nem que seja uma fresta.