“A estética será cada vez mais fundamental e necessária. Porque beleza e design emocionam instantaneamente – e isso tem muito valor em um mundo cada vez mais veloz. Não estamos mais apenas na era da informação, mas entrando numa sociedade do conteúdo”, escreve Fábio Bernardi, no artigo intitulado Interessância ou Morte publicado em GZH.
Penso que somente tolos insistem em rotular Caxias do Sul como uma cidade provinciana, retrógrada, conservadora, sem originalidade (entre outros adjetivos pouco elogiosos que parte da intelligentsia local atribui à nossa terra). Insistem neste discurso talvez porque não conheçam realmente sua cidade. Esse tipo de crítico é incapaz de sair de sua bolha resmunguenta, ressentida e eternamente insatisfeita e, pior, se fecha para quem vem de fora e se encanta com muito do que se faz e se vive aqui.
Há coisas incríveis sendo imaginadas e materializadas em Caxias. Vamos tomar como exemplo a indústria da moda. Semana passada estive no lançamento da coleção de uma criadora renomada que se inspirou na poetisa Cora Coralina. Como se não bastasse o encanto com a beleza e o colorido das peças, da fascinante explicação da estilista sobre a inspiração por trás de todas aquelas tramas, volumes e cores, fui agraciada com um bate-papo entre duas mulheres muito inteligentes, cheias de conteúdo, duas usinas de criatividade e de conhecimento: Beth Venzon e Rafaela Tomazzoni.
Beth é uma pesquisadora de moda cuja expressão intelectual ajudou a abrir os caminhos e a consolidar o curso de Tecnologia em Moda Estilo da Universidade de Caxias do Sul, criado em 1992, e hoje um dos cursos superiores mais respeitados nesta área em toda a América Latina. Rafaela, que foi aluna de Beth, atualmente é um dos grandes nomes da arte das tramas do tricô, do crochê e da malharia enquanto expressão singular da elegância do bem vestir. O mais bonito de um painel com mulheres talentosas e criativas é sentir que, devido à qualidade do que produzem enquanto saberes e expressões de seus saberes, tornam-se únicas, originais e inspiradoras. São expoentes de uma Caxias do Sul, de uma Serra gaúcha, que tem inegável vocação para a beleza, para a estética e para a moda — que há muito tempo é a materialização do design carregado de identidade, de história e de emoção.
Quando o colunista Fábio Bernardi sugere que a sociedade da informação, ainda bem, está cedendo espaço para a sociedade do conteúdo, entendo “conteúdo” como a qualidade de ser íntegro, profundo, estudado, a expressão máxima do conhecimento e da criatividade, o resultado do trabalho árduo do intelecto. A era da superficialidade talvez ainda se sustente entre os menos exigentes que preferem o fácil e o raso, talvez por falta de condições de absorver o complexo. Contudo, cada vez mais, estamos sedentos por mais profundidade e de mais qualidade. E estamos muito bem nesse quesito aqui na Serra gaúcha.