Há alguns dias assisti a um vídeo — postado no Instagram pela psicopedagoga caxiense Amanda Lord — que resume perfeitamente como a sociedade anda lidando com crianças hoje em dia. Estão cometendo equívocos sérios contra quem está extremamente vulnerável e é muito novo e muito frágil para se defender de adultos irresponsáveis e problemáticos. Por vezes, esses adultos estão no papel de pais, cuidadores, professores e terapeutas incapazes de sentir afeto e de demonstrar real preocupação com o bem-estar de seus filhos, de seus alunos e de seus pacientes.
Este texto é um convite para a reflexão: será que o mundo dos adultos não está transtornando crianças mental e emocionalmente saudáveis? Será que essa multitude de transtornos e síndromes realmente está sendo diagnosticada com critério e responsabilidade? Será que aquela criança agitada não está sofrendo de negligência e de abandono? Será que aquele menino calado, que interage pouco, não foi antes um bebê silenciado por telas e celulares para que os pais pudessem “jantar em paz”? Será que aquela criança “hiperativa” que está indo mal na escola não aprende porque muita coisa simplesmente não faz sentido e o método está desatualizado? Será que aquela garotinha diagnosticada com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) em poucos minutos de consulta apressada precisa mesmo ser “medicada” aos 7 anos de idade?
O que realmente está acontecendo com nossas crianças para que tantos transtornos sejam usados para simplificar os inúmeros aspectos complexos do crescimento e do amadurecimento, em suma, a complexidade da infância e da puberdade? Faço esses questionamentos porque sinto que já passou da hora de pararmos de aceitar passivamente verdadeiros crimes que se cometem contra os pequenos: temos adultos incapazes que estão roubando o futuro de crianças capazes.
Aquele menino pequenino que faz birra dentro de um shopping enquanto a mãe grava e posta no TikTok não tem problemas com raiva e hiperatividade, está apenas implorando pela atenção de sua progenitora. Só o fato de essa mulher ficar postando em rede social um momento de absoluta fragilidade e desespero de seu filho diz muito da pessoa horrível que ela é: seu filho é vítima. Aquele aluninho que parece totalmente desinteressado na aula e a coordenadora se apressa a “encaminhar” para um “especialista”, por suspeita de diversos transtornos, talvez seja só um coitadinho privado de sono, que não dorme direito, que talvez nem respire bem à noite, enquanto seus pais não prestam atenção nem se importam.
Isso é de partir o coração: pensar que se apressam em colocar o problema na criança, rabiscar algum “transtorno” numa folha de papel e ignorar o pequeno indivíduo, suas dores, seus medos, seus anseios, suas necessidades básicas não só de alimentação, mas também de amor, de afeto, de atenção, de interação. Nem todo caso é transtorno, pode ser só o caso de mais um adulto relapso que está transtornando uma pobre criança.