O último final de semana em Caxias do Sul foi daqueles de evidenciar os contrastes da cidade que legitimamente pode ostentar o título de capital de Serra gaúcha. Num lugar como Caxias, tudo ultimamente é hiperbólico: as grandes vitórias, e infelizmente grandes problemas.
Na sexta (dia 23), assim como muitos turistas e moradores da região, fui visitar os Pavilhões da Festa da Uva. Fiquei particularmente encantada com o quanto a vocação de uma cidade, da região inteira na verdade, conseguiu se materializar naquela exposição. Logo na entrada, temos os cachos de uva, exuberantes mesmo depois de uma temporada desafiadora por causa do Super El Niño, que revelam a grandeza da resiliência da agricultura e dos pequenos agricultores.
Depois, a galeria com as fotos da época da imigração e dos primórdios de Caxias — um amontoadinho de casas simples de madeira — nos leva a imaginar como podem em um século ter se transformado numa metrópole. Já não mais uma terra só de agricultura, mas uma terra de ampla industrialização, sempre a terra do trabalho. É impactante descer a escada rolante até o piso inferior — sob o olhar do autorretrato do nosso artista maior, Aldo Locatelli — e fazer a transição para a Caxias do Sul de hoje. A tecnologia, os robôs, o ônibus imenso e moderno, os simuladores, a moda, o design, o bom gosto de DNA indiscutivelmente italiano.
Poderia continuar falando da gastronomia, das mesas compridas de festa de capela, das conversas maravilhosas com o simpático pessoal do setor de turismo, do inegável potencial para recebermos visitantes do mundo todo. Não tem como sair de lá sem ficarmos orgulhosos da nossa trajetória e de tudo o que nossos antepassados construíram e nos deixaram como legado.
Mas, no sábado (dia 24) à noite, nas ruas dessa mesma linda Caxias do Sul, a cidade grande que é o centro da região que reúne todas as qualidades de que falei acima, um homem foi covardemente assassinado. Tombou, morto a facadas, por um criminoso que morava nas ruas. O assassino antes já havia atacado um jovem de 19 anos que, felizmente, sobreviveu. O assassino tinha claros transtornos mentais. Na matéria da colega Gabriela Alves publicada no Pioneiro, há a seguinte informação: “De acordo com a corporação, ele tem antecedentes policiais por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, tráfico de entorpecentes, entre outros.” Fico pensando o que seriam esses “entre outros”. Agora, me digam, o que esse monstro estava fazendo solto nas ruas da nossa grande cidade? Como nos consolarmos com essa morte?
Uma cidade grande em suas glórias e conquistas também é palco de grandes dores e de grandes injustiças, que nos deixam com medo, com raiva, decepcionados e desprovidos do nosso orgulho. Não podemos permitir que isso se repita. A grandiosidade de um povo também se revela quando ele luta não só para trabalhar e crescer, mas para garantir justiça e paz em sua comunidade.