A morte do ator Matthew Perry no último final de semana despertou em mim uma tristeza profunda, mas também um sentimento nostálgico de tempos mais tranquilos. Perry se tornou uma celebridade mundial graças à genial interpretação do personagem Chandler no agora clássico seriado Friends. Friends começou a passar aqui no Brasil no começo de 1996 na tv por assinatura cerca de dois anos depois de sua estreia nos Estados Unidos. Até hoje, mesmo após 20 anos do último episódio ir ao ar, é uma série cultuada por várias gerações.
Lembro que nos anos 90 eu trabalhava durante o dia, ia para a faculdade à noite e gravava todos os episódios no videocassete (fita VHS raiz) para poder assistir no final de semana. O enredo da série era bastante simples: seis amigos de vinte e poucos anos vivendo aquela fase após a formatura de ter que se consolidar no mercado de trabalho e dar um jeito de pagar as contas em meio a todo tipo de questões profissionais, familiares e amorosas. Esse tipo de série se chama nos EUA justamente de sitcom, ou “situation comedy”, um gênero que trata de situações da vida corriqueira com um toque de humor.
Naquele tempo, mesmo tendo dois empregos e estudando, as coisas pareciam mais leves, e a comédia de Friends meio que combinava com esse estado de espírito. Na verdade, os personagens da série estavam uma etapa à frente da minha na época, ou seja, os percalços da vida adulta já eram uma realidade para Monica, Rachel, Phoebe, Chandler, Ross e Joey, os seis amigos do título. Pareciam antecipar questões que eu enfrentaria ali adiante, mas sempre com um ar positivo e bem humorado. Mas isso eram os anos 1990, antes das redes sociais, antes dos ataques de 11 de setembro, antes de certas rupturas, problematizações excessivas e divisões que hoje pesam demais na vida da gente.
Duas décadas depois do final de Friends, o mundo, sem dúvida alguma é outro. Após uma pandemia, enfrentamos agora uma grave crise econômica e duas guerras que parecem ser só o começo de algo bem mais sério. O mundo hoje gera um cansaço que quase nunca é físico: é sempre mental e emocional. Sinto aquela sensação de algo sombrio que pesa nos ombros e no coração. Como muitos membros da chamada Geração X – a mesma à qual pertencia os personagens de Friends – , às vezes debocho dos jovens, falo que são mimizentos e sensíveis demais, mas me obrigo a ter empatia: eles não tiveram a sorte que eu tive de ter sido jovem num tempo bom que realmente não volta nunca mais.
Nós, quarentões, encontramos consolo no colo da nostalgia de quando as coisas eram sim mais simples. E os jovens de hoje têm colo onde? Sinceramente, não sei. Alguns caem prostrados no desânimo de viver sem propósito, outros se alinham a causas sem sentido cheias de incoerências. Mesmo adultos hoje, como Matthew Perry, acabam sucumbindo a questões de saúde mental. Precisamos ser fortes, porque o colorido de Friends desbotou e só nos resta lembrar com saudade de um mundo mais alegre.