A parada conhecida como "Billboard Hot 100," é uma lista semanal das 100 músicas mais populares num determinado país. Ela foi introduzida pela revista musical Billboard em 1958 nos Estados Unidos. A classificação considera vendas de singles, tempo de execução nas estações de rádio e, hoje em dia, também nos serviços de streaming como Spotify e Deezer. Ao longo dos anos, a parada tornou-se um indicador crucial do sucesso comercial de músicas e artistas não só nos EUA mas em várias partes do mundo.
Pois bem, dias atrás me deparei com as mais tocadas no Brasil na primeira semana de outubro. Entre as 10 mais, havia títulos como Lapada Dela, Faz um Vuk Vuk (Teto Espelhado) e Mala dos Porta-Mala. Não há dicionário que dê conta de ajudar a traduzir esses nomes. Lapada? Vuk Vuk? A impressão que dá é a de que voltamos aos tempos em que os seres humanos se comunicavam por meio de grunhidos iguais aos animais irracionais. A falta de esmero e de um mínimo de noção de estética no conteúdo, na técnica, na performance musical, além dos ritmos simplórios e repetitivos e da temática que gira unicamente em torno de festa, bebedeira e promiscuidade: tudo isso é apenas um recorte da atrofia cognitiva que impera neste país.
Música boa requer estudo de um instrumento, requer prática, habilidade, exige talento para lidar com uma forma de arte complexa por natureza. Mesmo aquilo que aparentemente possa ser considerado simples — como obras do antigo cancioneiro popular e das modas de viola do sertanejo raiz — guarda certa sofisticação artística. Infelizmente, a boa música parece ter sido confinada a recantos marginalizados longe da grande mídia, das produtoras de shows e de espetáculos e das gravadoras. Escolhem investir no raso porque é o que tem apelo popular. Como escrevi neste espaço há duas semanas, o público parece estar conformado com isso porque a grande maioria sequer tem conhecimento ou espírito crítico para diferenciar um lixo musical de músicas com qualidade. Onde estamos errando enquanto sociedade? E como contornar esse problema?
Bem, eu tenho uma dica: valorizem os bons professores de música e incentivem que se inclua esse tópico na grade escolar. Sempre lembro quando fui buscar minha filha na escola e ela entrou no carro cantarolando uma música linda que eu não conhecia. Devia estar no 1º ano do Ensino Fundamental. Perguntei onde ela tinha ouvido, e ela me contou: “Foi a profe Fran que ensinou na aula”. Digitei no Google o pedacinho da letra que ela cantou e encontrei a música: Ilusão, de Julieta Venegas em parceria com Marisa Monte. Que momento ter minha filhinha me apresentando uma linda música graças ao trabalho maravilhoso de sua professora.
P.S: A professora era nada mais nada menos que a talentosíssima Fran Duarte, uma das maiores cantoras aqui do nosso Estado e cujo amor pela música transborda. Obrigada, Fran.