A convite da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Monte Belo do Sul eu participei no último final de semana do corpo de jurados que escolheu o trio de soberanas para representar uma das grandes festas comunitárias da Serra gaúcha: a 8ª Festa de Abertura da Vindima. Enquanto as candidatas desfilavam na passarela, tocou uma música chamada “Più bella cosa non c'è”, do cantor Eros Ramazzotti. Para quem entende um pouco de italiano, sabe que essa frase significa “Não existe coisa mais linda”.
Sem dúvida, era uma canção apropriada como trilha sonora do desfile das oito candidatas que, além de belas na aparência com seus lindos trajes de vindimeiras, horas antes provaram, durante as entrevistas, que ostentavam outro tipo de beleza: grande inteligência e conhecimento sobre sua terra, suas origens e seu lugar no mundo, e o orgulho de representar seu povo, sua cultura, sua fé e seu trabalho. Uma delas me deixou bastante comovida quando relatou a luta de sua família de pequenos agricultores até chegar à época da vindima, quantas vezes o trabalho árduo de um ano inteiro foi perdido em minutos por causa de um temporal com granizo. Outra contou causos maravilhosos e divertidos do pároco da Igreja São Francisco de Assis que benzia o tempo e afastava intempéries em meados do século passado. Todas elas falavam emocionadas da festa da vindima, o momento de união da cidade inteira para festejar a magnitude que a época da colheita representa para aquela comunidade.
Na verdade, mal acredito que, mesmo tendo morado a vida inteira aqui na Serra gaúcha, eu nunca havia visitado Monte Belo do Sul antes, mesmo já tendo ido várias vezes a Bento Gonçalves e ao Vale dos Vinhedos. Mas, depois de uma curva na estrada – a propósito muito bem sinalizada e bem cuidada –, quando avistei pela primeira vez o monte e as torres da Igreja São Francisco de Assis lá no alto, com as cores de outono pintando as árvores decíduas e os parreirais, senti aquele arrebatamento e fiquei completamente encantada com o lugar. Acho que é a mesma sensação que alguém tem quando descobre um tesouro escondido. E um detalhe: próximo ao novo pórtico, que parece emoldurar a paisagem, há uma outra frase em italiano que quase me fez ficar por lá mesmo: “Vieni Viveri La Vita”.
Também é lindo o que se percebe pelas ruas, pelas propriedades rurais, pelas estradinhas e comércios, e também nos gabinetes: Monte Belo do Sul tem a fórmula do sucesso para o turismo sustentável, o respeito às tradições e ao patrimônio histórico (material e imaterial) e agricultura familiar pujante. E qual seria essa fórmula? Uma bem-sucedida e duradoura parceria público-privada. Ninguém faz nada sozinho, muito menos se consegue algum fruto sem o plantio adequado e o apoio uns dos outros. O que precisamos, mais do que nunca, é zelar pelo bem comum com objetivos comuns, responsabilidades e deveres compartilhados entre governantes e empreendedores, a população e seus representantes.
Nada é mais bonito do que uma comunidade que entendeu a força da união de todos.