Há alguns dias, vi mais uma campanha do Cpers – o sindicato dos professores estaduais do Rio Grande do Sul – em mais uma justa reivindicação por aumento salarial. Conheço bem essa luta: fui professora estadual durante oito anos entre um contrato emergencial e minha nomeação no concurso público do magistério. Dei aula em duas escolas estaduais excelentes, e confesso que dar aula no querido Colégio Estadual São Marcos me proporcionou talvez alguns dos dias mais felizes da minha vida profissional.
Contudo, considero um tanto equivocado certo trecho do comercial do Cpers veiculado na televisão em que se diz o seguinte: “Educar não é somente fazer prédio. Prédio não ensina ninguém”. Custei a acreditar que era isso mesmo que o Cpers estava dizendo a milhares de gaúchos. Que falácia! Um prédio caindo aos pedaços com certeza não proporciona um ambiente saudável, dinâmico e estimulante nem aos alunos e muito menos aos educadores que lá trabalham. Ensinar numa sala de aula em ruínas é simplesmente impossível.
Só para comprovar que um espaço escolar bem cuidado pode sim ensinar muita coisa, trago aqui o caso de uma escola pública de Santa Maria, que foi divulgado em GZH nesta semana. O Colégio Estadual Professora Edna May Cardoso – num esforço conjunto de corpo docente, direção, funcionários da escola, estudantes, pais de alunos, UFSM, Corpo de Bombeiros e da comunidade – projetou e criou um sistema de captação de água da chuva que hoje armazena até 22 mil litros de água e ajuda a amenizar os efeitos devastadores da estiagem naquela região. Além de fornecer água aos moradores do bairro, que têm acesso à cisterna, também serve para irrigar a horta comunitária mantida no terreno do colégio estadual.
O sistema foi instalado no telhado da quadra de esportes e parte dos recursos veio do caixa escolar, aquele dinheiro que é arrecadado ao longo do ano com muito esforço em rifas, festas juninas, doações e alguma verba (escassa) que se consegue do governo. Resumindo: o “prédio” não é só um amontoado de tijolos, o “terreno” não é só uma demarcação escriturada. Esse lugar é um organismo vivo de convívio e de aprendizagem, ou seja, ele ensina várias coisas. Neste caso específico da escola de Santa Maria, ensinou sustentabilidade, responsabilidade, espírito comunitário, agricultura, planejamento, o poder da união. Imaginem, agora, o que poderia ser feito com mais recursos destinados para construir ambientes ainda melhores para aprender e conviver.
Colocar a culpa da falta de dinheiro para o aumento salarial na construção e na reforma de escolas, quadras, bibliotecas e laboratórios é aquele tipo de fogo amigo que não faz bem a ninguém, muito menos à causa mais legítima e mais importante que temos: a educação.
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Gurias, Feliz Dia da Mulher! Ocupemos os espaços, nossa voz é importantíssima.