Tenho o costume de acompanhar perfis de divulgação científica nas redes sociais. Os meus favoritos falam sobre meteorologia, astronomia e geografia e são administrados por cientistas e divulgadores científicos sérios, imunes à subjetividade que contamina muitos artigos na área por causa de paixões políticas, cegueira ideológica, seitas religiosas e bizarras teorias da conspiração.
Infelizmente, muitos seguidores desses perfis fazem parte do que se convencionou chamar de “turma do chapéu de alumínio”: são pessoas muito, mas muito burras que mal leem o título de uma matéria e já escrevem algum comentário absurdo exalando ignorância porque acham que têm relevância e se colocam no mesmo nível dos cientistas. A maioria dessas pessoas sequer sabe distinguir o que é fato do que é boataria e se deixam levar pela ilusão do conhecimento só porque leram algum artigo tendencioso que receberam num grupo de WhatsApp.
A tragédia do terremoto que deixou milhares de mortos na Turquia e na Síria tem sido um dos assuntos mais comentados nos portais e páginas de divulgação científica. Obviamente, trata-se de um tema relevante que atrai todo tipo de leitor, desde quem busca mais informações devido ao impacto histórico e humanitário de um evento como esse, até engraçadinhos idiotas em busca de atenção na seção de comentários.
Lendo os comentários, senti um desânimo profundo: pouquíssima gente realmente demonstrava um conhecimento básico sobre abalos sísmicos, placas tectônicas e tremores secundários, sequer entendiam o que realmente aconteceu. Entre as muitas bobagens que li, alguém falava de um “vulcão no Brasil”, outra pessoa perguntava se haveria um tsunami aqui (esta última sequer viu uma Mapa Múndi na vida, nem fazia ideia de onde fica a Turquia).
Nada é mais comum em rede social do que gente de pouca capacidade cognitiva — ou simplesmente com preguiça de ler e de aprender — postando comentários com sua opinião sobre o assunto tratado sem ao menos ter lido o texto inteiro. O irônico é que hoje temos toda a informação e todo conhecimento do mundo a um clique de distância, seja no computador ou na tela de um celular. Por que, então, essas pessoas escrevem comentários tolos, burros, e ainda por cima teimam e discutem com os cientistas?
Percebe-se que nem é só questão de estar à mercê dos teóricos da conspiração: demonstram que não houve estímulo familiar para aprender sobre o mundo em que vive, e que a formação escolar obrigatória para esses indivíduos fez pouca — ou nenhuma — diferença na sua bagagem cultural, intelectual e formativa. Não aprenderam que ter dúvidas e incertezas não é demérito algum, e que só devemos afirmar alguma coisa em público diante de fatos e de informações bem embasadas. Como dizem os sábios, só um imbecil completo é cheio de certezas. Minha teoria é que há gente tão ignorante que ignora a própria ignorância e irrelevância.