As montadoras de automóveis sempre foram um símbolo da potência da indústria. Uma delas inclusive – a Ford – foi a pioneira na criação da linha de montagem, sistema que ainda está presente em muitas fábricas de quase todos os setores produtivos no mundo inteiro. Nesta semana, foi justamente a Ford que anunciou mais um programa de demissão em massa, dessa vez na Europa: serão quase 4 mil trabalhadores demitidos. Nos últimos dois anos, só aqui no Brasil a Ford demitiu cerca de 3 mil pessoas, e foram outras 4 mil demissões nos Estados Unidos, Canadá e Índia.
Pode-se até argumentar que a Ford representa um modelo de negócio – e de produto – ultrapassado, já que a grande onda de inovação dos carros elétricos (liderada pela Tesla, do bilionário e visionário Elon Musk) chegou como um tsunami no mercado automobilístico de gigantes como GM, Volkswagen, Renault, Fiat, Toyota, Honda, Hyundai, etc. Mas não é só isso: há uma movimentação bem significativa nos rumos do trabalho e do emprego, e principalmente do tipo de profissional considerado extremamente necessário e imprescindível na sociedade moderna.
Mesmo o setor da tecnologia e as Big Techs, que antes pareciam uma fonte inesgotável de emprego e renda, vêm promovendo demissões em massa nos últimos meses disfarçadas com o nome bonitinho de “layoffs”. O Google demitiu 12 mil pessoas; a Meta – conglomerado de redes sociais como o Facebook e o Instagram – promoveu o desligamento de 11 mil funcionários; e a toda-poderosa Amazon demitiu 18 mil pessoas, bem acima do número estimado pelos especialistas. Afinal, se até essas grandes empresas hoje estão enxugando e reduzindo drasticamente o número de funcionários, para onde correr? Que tipo de profissão e que tipo de indústria estará imune a crises econômicas e disrupturas? A resposta é: nenhuma. Como diz o ditado: “a única constante é a mudança”.
No entanto, há outro ditado que pode nos apontar um caminho: “plus ça change, plus c’est la même chose”, ou seja, “quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas”. Sempre houve na história da humanidade momentos em que uma grande força de trabalho se torna obsoleta. Imaginem os monastérios lotados de copistas cuja função perdeu o sentido quando Gutenberg criou a imprensa no século 15. Um trabalho considerado importantíssimo tornou-se quase inútil assim que uma nova tecnologia passou a executar de modo mais rápido e mais eficiente a mesma atividade. Aqui temos uma lição de como um ser humano pode se manter útil: prestar um serviço, criar alguma coisa, gestar um produto que uma máquina – por mais avançada que seja – ainda não consiga fazer para te substituir.
Provavelmente essas milhares de pessoas foram demitidas porque já existe uma máquina ou um software que as substitui, ou ainda porque o que faziam já não tem mais serventia à sociedade. Sempre foi assim na nossa caminhada enquanto raça humana, não é diferente agora, nem será diferente no futuro.