Um grupo de pesquisadores de Caxias do Sul desenvolveu um ventilador pulmonar portátil. O protótipo, que pesa cinco quilos, foi criado pela Zextec, que também participou do projeto de outro modelo de respirador produzido na cidade, o Frank 5010, desenvolvido pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). O novo respirador criado na Serra gaúcha, apelidado de Thor, tem como principal avanço o fato de poder ser facilmente transportado, acompanhando o paciente no hospital ou mesmo em ambulâncias.
Em tempos de instituições sobrecarregadas, em que novos leitos precisam ser criados de uma hora para a outra, o equipamento que facilite este remanejamento se torna ainda mais fundamental. O pesquisador responsável da Zextec, Hugo Souza, exemplifica:
_ Pacientes com covid, muitas vezes, precisam fazer tomografias. O simples fato de levar para um exame já é um transtorno que o novo respirador vai facilitar.
O pesquisador também diz que o equipamento poderá servir para internações domiciliares. Alexandre Avino, médico responsável pelo projeto e diretor técnico do Hospital Geral de Caxias do Sul, esclarece que o respirador é indicado para uso domiciliar apenas em pacientes com doenças crônicas respiratórias ou neurológicas.
_ Temos entre duas e quatro crianças que são residentes do hospital e que poderiam ficar em casa com o ventilador, mas ele é caríssimo, envolve questões judiciais, e as crianças ficam ocupando leitos. O respirador certamente seria de utilidade nestes casos _ destaca Avino.
Já o uso do ventilador portátil para o tratamento da covid-19 em casa não é recomendado. Segundo o médico, ele ocorre apenas em nível hospitalar por ser mais complexo.
_ A mortalidade dos pacientes que internam para covid é alta, e mais alta ainda para ventilação mecânica. Quando saem da UTI, já saem sem a necessidade de ventilador _ esclarece o diretor técnico do hospital.
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
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Protótipo pronto em três meses
O tempo recorde de desenvolvimento do projeto também chama a atenção. Segundo o empresário, foram três meses entre a aprovação pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que repassou R$ 3 milhões, e a montagem do protótipo. O próximo passo é obter a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser fabricado e comercializado. Segundo Souza, o ventilador já foi testado em suínos, com 100% de sucesso, e agora teve autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para os testes clínicos em humanos.
Se o processo correr conforme o esperado, a estimativa é de que o Thor esteja disponível para o mercado em seis a setes meses, a partir do início dos testes. A capacidade inicial de produção é para 300 ventiladores e a fabricação será feita em parceria com a empresa Meditron, de São Paulo. Outra fabricante paulista, a Fanem se interessou pelo projeto e quer desenvolver outros equipamentos em Caxias do Sul.
Respirador mais barato e com menos uso de oxigênio
Entre as soluções inovadoras do respirador Thor, além da logística facilitada, está a possibilidade de economia com oxigênio que compõe a mistura de gases, pois a tecnologia permite o aproveitamento total do elemento químico em cilindros menores do que os usuais, e a não necessidade de uso de bloqueadores neuromusculares, produtos que estão em falta no mercado.
_ Ele tem funções respiratórias mais complexas. O Frank, por exemplo, só funciona a pressão. Este novo modelo reúne vários fatores, como pressão e volume, e não precisa de tanto ar comprimido. Sem contar a interação maior que proporciona com o paciente _ explica o pesquisador.
O valor do ventilador pulmonar portátil também deve ser outro atrativo frente aos concorrentes. Modelos portáteis semelhantes ao Thor já são fabricados em outros países, mas esse, por ter produção 100% brasileira, deve ter um valor final de R$ 15 mil a R$ 20 mil.