Paulo Bellini criou uma companhia mais conhecida do que Caxias do Sul no mundo. “Sou da cidade da Marcopolo”, muitos referem ao serem indagados de onde são, quando estão fora do Estado e do país.
O empresário construiu um império de 12 fábricas e 12 mil empregos ao redor do mundo. Mas fez mais: ajudou a solidificar a cadeia metalmecânica de Caxias, transformando-a na segunda maior do país, ao estimular o nascimento de uma rede de empresas fornecedoras. Foi um ícone, uma referência e um incentivador de novas lideranças e do desenvolvimento de Caxias do Sul.
Edificar uma história longeva de 68 anos de um conglomerado fabril que ganhou as ruas do mundo não foi simples. Muita ousadia e energia foram empregadas. Por isso, Seu Paulo Bellini era (e sempre será) reverenciado. Parte dos ensinamentos ele generosamente presenteia à comunidade como legado em entrevistas e no seu livro Marcopolo – Sua viagem começa aqui (2012).
Bem ao estilo simples de ser, Seu Bellini deixa dicas a empreendedores, numa destacada seção que se repete ao longo da obra, singelamente batizada de “Pitaco”. Parte dessas pílulas de ensinamentos a coluna compartilha a seguir.
Pitacos de sabedoria
"Gerações duram o tempo do surgimento de novas tecnologias que modificam muito o desempenho e a cara do produto. Hoje a passagem de uma geração para a outra é muito mais rápida. Temos uma equipe trabalhando permanentemente a próxima geração."
"Fazer ônibus naquela época, carroceria de ônibus, era uma aventura. As ferramentas eram poucas e precárias."
"Estamos sempre atentos no sentido de identificar oportunidades que nos ajudem a melhorar a qualidade dos nossos produtos e aumentar nossa produtividade. Por isso, só terceirizamos atividades que não são nosso core business (parte central), mas o fundamental é que o terceiro precisa agregar valor ao nosso negócio."
"Hoje sinto uma alegria imensa pela nossa preocupação com o conforto do passageiro e do motorista. Antigamente, as poltronas eram feitas com a tecnologia da boa vontade. Depois de um grande trauma, nós revimos isso. Tivemos um pedido enorme de um cliente muito exigente. Muitas poltronas daqueles ônibus apresentaram problemas. Ficamos com uma imagem abalada. E para repor aquele monte de poltronas? Foi duro. Mas resolvemos o problema e resgatamos a boa imagem."
"Plantamos a semente da participação nos resultados na empresa e começamos a sentir grande aproximação com o pessoal de chão de fábrica."
"Depois da viagem ao Japão, nós, os empresários e executivos que participamos da mesma missão, nos reuníamos para trocar experiências. Aí um chegava lá e dizia: ‘Eu tirei não sei quantos caminhões de sujeira da fábrica.’ E como é que está indo? ‘Não está! Não anda!’. Ele esqueceu que não se pode impor as mudanças. Precisa ter muita habilidade para envolver e motivar os funcionários e, ainda mais, para não melindrá-los."
"Estamos sempre preocupados em nutrir a criatividade que só floresce nesse ambiente de cooperação."
"Eu fico muito gratificado quando vejo que as ideias originais nascidas do trabalho das equipes agregam tanto valor à empresa. Quando são estimuladas, as pessoas expõem soluções sem ter medo de errar. E assim se criam inovações."
"Tem de conhecer a sensibilidade do povo que está contigo. Porque, se a gente não conhece, dá um tiro no pé."
"Sempre nos preocupamos em ter um caixa salutar. Assim, temos mais tempo e tranquilidade para analisar oportunidades de expansão."
"Ter ideias, mas não as pessoas capazes de desenvolvê-las, não leva à inovação. Esse é um traço importante da nossa cultura que queremos perpetuar."