Não é de hoje que causa estranheza o fato de a região da Serra ter tanta dificuldade em captar investimentos, especialmente do Governo Federal, para obras de infraestrutura. Para ser justo, meu colega de Rádio Gaúcha, Pioneiro e GZH, Ciro Fabres alerta para este quadro há um bom tempo e, por mais que se cobre respostas e soluções, esta situação não muda, e até parece se agravar.
Durante muito tempo, uma das justificativas é que não havia grandes obras em lugar nenhum do país, pois faltava dinheiro. Os fatos atuais, porém, parecem desmontar esta justificativa.
Nesta semana, outro colega, o Jocimar Farina, no clima da Expointer, publicou uma coluna citando as obras que estão surgindo na BR-116, em Esteio. Fiquei espantado ao ler que um trecho de três quilômetros daquela via está recebendo cinco viadutos. E as obras estão andando com razoável agilidade, com previsão de serem inauguradas já em 2025.
Não tenho nenhuma dúvida sobre a necessidade dessas obras, já que o tráfego pela BR-116 na região Metropolitana e o acesso à Expointer são historicamente problemáticos. A questão não é essa, e sim perguntar por que não se consegue algo nem próximo por aqui. Cinco viadutos para a Serra, por exemplo, resolveriam gargalos históricos de trânsito, em diversos pontos das estradas da região, mas hoje não há nenhuma previsão de termos algo parecido com isso nos planos do Governo Federal.
Para se ter uma ideia, o projeto de um viaduto na BR-116, ligando a via à Perimetral Norte de Caxias, mofa em alguma gaveta em Brasília há 10 anos. Já a duplicação de um trechinho (no diminutivo, pela extensão e pelo custo que teria) de 900 metros da mesma estrada, na área urbana de Caxias do Sul, espera para ser feito desde a década de 1980.
Alguém pode comentar que o poder político da Capital e a demanda maior pela rodovia naquele ponto facilitam a construção desse tipo de obra, não sendo possível comparar com a realidade da Serra. Até faz sentido, mas isso também não justifica a situação, já que outras cidades do interior como Pelotas, Santa Maria e Ijuí ganharam nos últimos anos vistosas (e justas) obras de contornos rodoviários.
Se o problema não é verba, o que está faltando? Projetos melhores, mais pressão ou representação política mais eficiente? Talvez um pouco de tudo. O fato é que há algo muito errado com a forma da Serra encaminhar suas reivindicações, pois os outros conseguem ser ouvidos e atendidos. As lideranças da região precisam refletir sobre isso.