O alerta de risco de transbordamento e rompimento das barragens do Complexo Dal Bó, emitido no dia 2 de maio, foi um dos momentos mais tensos vividos pela comunidade de Caxias do Sul neste período de chuvas intensas. Á água estava na borda da represa São Miguel e, se passasse por cima do muro, além de alagar os arredores, poderia desestabilizar o terreno, criando condições para um rompimento da estrutura, uma situação que causaria uma grande tragédia, com diversos bairros da cidade fortemente atingidos.
A principal providência tomada na ocasião foi abrir totalmente uma comporta da represa, para que o nível baixasse o mais rápido possível, por meio do escoamento forçado da água para o Arroio Dal Bó. Para evitar novos sustos, essa alternativa segue sendo usada pela direção do Samae.
De acordo com o diretor-presidente da autarquia, Gilberto Meletti, anteriormente o nível normal da barragem ficava entre 60cm e 80cm abaixo da parte mais alta do muro de contenção. Nestes últimos dias, com a comporta aberta, ele está 1m70cm abaixo do nível máximo, a fim de que um eventual novo acúmulo de água possa ser contido com mais tranquilidade. Com isso, segundo o site do Samae, nesta quinta-feira (9) apenas 66,04% da capacidade do complexo estava tomada.
O Dal Bó atualmente é responsável pelo abastecimento de 3,97% da cidade de Caxias do Sul. Mesmo estando próximo a uma área bastante urbanizada, Meletti informa que não há planos para desativação do complexo. Segundo ele, as análises posteriores à enchente já demonstraram que a operação segue 100% segura, pois não houve danos à estrutura, e que a manutenção do nível mais baixo é uma medida extra de garantia.
— Esse volume de chuva foi uma coisa extraordinária, jamais vista, mas a gente conseguiu fazer com que ela não transbordasse, e não houve prejuízo na base. Ela tem 70 anos e nunca houve risco, e nós temos o Plano de Segurança das Barragens, que está sendo seguido. Ela continua normal, como sempre foi, e vai permanecer mais baixa, para que se houver chuva, não transborde — informa Meletti.
Gerson Panarotto, superintendente de Planejamento e Obras do Samae, ressalta que não há motivos para preocupação e que as medidas tomadas na semana passada, como o alerta e a evacuação de moradores das proximidades, foram ações preventivas. Mesmo assim, ele recomenda a execução de algumas obras emergenciais, que garantiriam mais segurança. Entre elas estão a construção de uma canaleta de concreto à frente dos degraus da barragem, para que, em caso de extravasamento, a água seja direcionada para o canal de escoamento do Arroio Dal Bó.
Outra providência indicada é a retirada de moradores que estão às margens do córrego e que já são atingidos quando a água passa pelo vertedouro. Panarotto ressalta que a manobra para diminuição do nível da represa é importante, mas não pode ser usada indefinidamente, pois essa água pode fazer falta no futuro:
— Nós temos que cuidar para não deixar muito seco, porque a gente já tem previsão de que neste ano, a partir de junho, vai ter estiagem. Então temos que fazer a dosagem para não ficarmos sem a água. A gente vai fazendo o controle para manter a água baixa, mas também mantendo em um nível que garanta o abastecimento depois.
O Complexo Dal Bó é formado por três barragens, construídas em alvenaria de pedra, e foi a primeira iniciativa para garantir o abastecimento de água de Caxias do Sul com mais eficiência. A primeira a ser inaugurada foi a São Miguel, em 1928, e que passou por uma ampliação em 1954. A São Pedro começou a ser usada em 1943, e a São Paulo foi concluída em 1948.