A maioria das pessoas que visitou a Festa da Uva nesta edição de 2024 ficou com a impressão de que foi um bom evento. Considero isso um grande feito, uma amostragem inequívoca de força e vitalidade, e que significou uma retomada muito interessante para a feira.
A percepção humana sobre qualquer coisa, seja nos negócios ou no dia a dia, na vida quotidiana, está conectada com a expectativa. Análise positiva ou decepção estão muito ligadas a aquilo que você tem como parâmetro ou termo de comparação, e acho que a Festa da Uva deste ano acabou beneficiada por isso. É preciso levar em conta que havia uma desconfiança no ar, e como foi apresentado algo muito melhor do que alguns prognósticos apontavam, a sensação final é boa.
E a desconfiança tinha suas razões. Depois de reunir mais de 900 mil pessoas em 2016, o evento parecia ter perdido o rumo. Foi adiado de 2018 para 19, e ainda assim teve uma edição problemática. Depois veio a pandemia, que fez com que a festa de 2022 fosse realizada com muitas restrições, com prejuízos à visitação e ao ambiente. Além disso, não conseguiu arrecadar verba suficiente para pagar os fornecedores, o que gerou questionamentos sobre a viabilidade e sustentabilidade futura.
Partindo desse quadro, que se somou a uma divulgação prévia falha, havia uma névoa de dúvidas de como seria em 2024. Pois o andar dos dias acabou clareando as coisas e mostrando uma festa que executou o básico de forma competente, e ainda abriu caminho para que um dia se volte à glória de tempos anteriores. Foi uma indiscutível retomada.
Algumas opções foram decisivas para essa inversão de situação. Entre elas destaco a valorização do papel da gastronomia na festa, o que chamou a atenção e certamente contribuiu para um aumento do interesse do público. Não tenho dúvida de que essa questão da culinária regional, com mais atividades e divulgação caprichada, tem que ser, cada vez mais, o foco do evento. A distribuição ampla de uva, a retomada do Som e Luz e um desfile cativante também são pontos que precisam ser ressaltados.
O resultado prático foi um público acima do que a própria direção da Festa esperava. Além de demonstrar acertos e vitalidade, isso deve ter um outro resultado prático: a arrecadação possivelmente será maior, ajudando a quitar as dívidas passadas.
Nem tudo, obviamente, foram flores. Conforme já citado, a divulgação prévia, na cidade e fora dela, foi bastante falha. O resultado de público foi acima do esperado, mas dá para imaginar que seria ainda melhor se tivesse havido mais ações anteriores. Além disso, apesar da (ainda tímida) retomada do Tirando Pó e do crescimento dos Jogos Coloniais, é preciso espalhar a Festa pela cidade e envolver muito mais a cidade no clima do evento. Um uso mais amplo da Réplica de Caxias e do mirante da cidade, os mais belos espaços do Parque de Eventos, também precisa ser pensado, inclusive para o período fora da festa, agregando-os como ativos para o turismo da cidade o ano todo.
A avaliação, no entanto, é inegavelmente positiva. Após as incertezas, a Festa da Uva sai de sua 34ª edição fortalecida e rejuvenescida, e a edição 2026 já nasce com perspectivas muito melhores.