Foi somente no domingo (3), último dia do evento, que o presidente da Comissão Comunitária da Festa da Uva 2024, Fernando Bertotto, pôde relaxar e se aventurar na tirolesa instalada na entrada dos Pavilhões. Muito aguardada por ele, a experiência de descer em queda livre, suspenso por um cabo de aço a cerca de 20 metros de altura, foi sendo adiada devido aos compromissos de liderar um dos maiores eventos comunitários do país. Após um ano de trabalho intenso, com incontáveis horas de dedicação, Bertotto poderá, enfim, desacelerar.
O primeiro movimento foi dar descanso para o time e adiar uma reunião agendada entre os integrantes da comissão para esta segunda-feira (4), que começaria a detalhar os números totais de visitantes do evento (leia mais abaixo). A pausa é breve porque a Festa da Uva encerrou para o público, mas não para quem a organiza. Além disso, Bertotto vai liderar a organização da Festa das Colheitas, que será realizada de sexta a domingo, entre os dias 28 de fevereiro e 16 de março de 2025.
— Não vou sair de férias, temos de 30 a 60 dias para a prestação de contas. Precisamos fazer os pagamentos agora que os valores foram liberados. Vou descansar mesmo só em julho — explicou.
Aos 48 anos, o administrador de empresas encerrou a sua oitava Festa da Uva: ele trabalhou em todas as edições entre 2006 e 2016, ocupando funções estratégicas, em áreas como desfiles, infraestrutura e logística. Em 2022, assumiu o desafio de presidir o evento em meio aos desafios impostos pela pandemia de covid-19, mantendo a função em 2024. Desta vez, entende que teve mais liberdade para trabalhar.
— Começamos a montar as equipes um ano antes da Festa da Uva. A dedicação é quase que diária neste período e, a maneira que vai afunilando, vai crescendo a participação. A equipe que estava comigo é fantástica, vestiu a camiseta da Festa da Uva e todos entenderam a proposta. A minha maior vontade, por exemplo, era ter feito todo o primeiro andar do Centro de Eventos com o parreiral (a decoração ficou limitada à entrada), mas como era uva de verdade, acabou ficando difícil.
Uma tarefa que impõe desafios.
— O mais difícil (do cargo), sem dúvida, é administrar conflitos, egos e vaidades. A gente tem uma exposição muito grande, muitas brigas internas, no bom sentido, conflito de interesses ou algumas coisas que as pessoas almejam e que não acontecem. É muito comum isso acontecer quando se está à frente de um evento de muita grandeza, como a Festa da Uva. Mas a gente administra e bola pra frente.
Cargo dividido com a função de empresário
Para ele, a Festa da Uva deste ano acertou ao valorizar a gastronomia, funcionando como um atrativo para o paladar do visitante. É dele também a decisão, adotada em 2022 e mantida em 2024, de separar o público dos Pavilhões e dos shows — o ingresso para o parque não deu direito aos shows nacionais, era necessário adquirir um bilhete específico para as atrações. A iniciativa buscou garantir mais controle de público e segurança do evento.
A presidência da Comissão Comunitária da Festa da Uva, assim como os demais cargos de diretoria, são funções voluntárias — ninguém recebe salário, por exemplo. Por isso, Bertotto se dividiu nas últimas semanas entre a diretoria de um laboratório de análise de água que tem em sociedade com a irmã e a liderança do evento.
— O pagamento que a gente recebe, como voluntário, é a satisfação do público dentro do parque, seja ele de Caxias ou de fora. Se ele saiu daqui feliz, viu o desfile e gostou, é o melhor pagamento que a gente pode ter. A minha rotina foi extremamente exaustiva, mas eu gosto. Eu ia para a empresa de madrugada, 5h, 5h30min. Ficava até 8h, subia para o parque, onde ficava até 1h, 2h. Dormi muito pouco nesse período — conta.
Bertotto não esconde o desejo de realizar mais uma Festa da Uva — a definição de quem comandará o evento em 2026 depende da eleição municipal de outubro deste ano, uma vez que o cargo é uma indicação de quem ocupa a chefia do Executivo. Na história de quase um século de festa, apenas o empresário Gelson Palavro organizou três edições (2006, 2010 e 2012) — os demais nomes, não passaram de uma ou duas festas.
— Termino a festa bem alegre, com bastante satisfação, porque é uma festa que deu certo, todo mundo gostou. Tem vários fatores a partir de agora e cabeças novas precisam ser pensadas. A gente acha que está no caminho certo e daqui a pouco vem alguém com outras ideias, e isso é muito legal, faz parte do processo. Mas se tu me perguntar "tu iria para uma terceira gestão?", é óbvio que eu iria, eu adoro isso aqui — conta.
Festa pode ter movimentado quase meio milhão de pessoas
A Comissão Comunitária da Festa da Uva vai se reunir nesta semana, em data a ser definida, para calcular quantas pessoas foram envolvidas pelo evento, que encerrou no domingo (3).
Extraoficialmente, o público nos Pavilhões da Festa da Uva chegou a 400 mil pessoas em 18 dias de evento — deste número, será detalhado quantos foram pagantes, cortesias, público infantil, entre outros. Os seis desfiles na Rua Sinimbu foram assistidos por 64 mil pessoas, entre arquibancadas e calçadas.
Será contabilizado ainda o público participante das 13 etapas dos Jogos Coloniais, realizados aos finais de semana desde janeiro. Até a semana passada, sem contar a final do último domingo, 15 mil pessoas haviam se envolvido com as brincadeiras que simulam o dia a dia da colônia.
Ao todo, o evento deste ano pode ter impactado 480 mil pessoas. Em 2022, foram 350 mil visitantes nestas três atrações. Outra definição a ser feita é o balanço financeiro da Festa da Uva, que deve ser conhecido em até 60 dias.