Encerrada neste domingo (3) após 18 dias de programação, a 34ª Festa Nacional da Uva, em Caxias do Sul, será lembrada como uma edição de mudanças, mas que não perdeu a essência de uma celebração típica italiana. O visitante encontrou alterações no roteiro dentro do parque, ao mesmo tempo que ficou imerso na cultura e no que de melhor é produzido em Caxias, seja na indústria, na agricultura ou outros setores.
Após a cobertura diária do evento, o Pioneiro elencou pontos que funcionaram nesta edição e que devem permanecer para 2026 e o que ainda pode ser melhorado.
O que deu certo em 2024
Gastronomia no Pavilhão 1
A principal mudança desta edição da Festa da Uva foi percebida e elogiada pelos visitantes durante o passeio pelo parque: a praça de alimentação foi posicionada no Pavilhão 1, enquanto a feira multissetorial, que reuniu centenas de expositores de vestuário, calçados, cama, mesa e banho, entre outros segmentos, migrou para o Pavilhão 2. Em outras edições, os setores de gastronomia ficavam concentrados somente no segundo pavilhão, enquanto a feira integrava o início do passeio pelo evento.
É como se a Festa da Uva convidasse o visitante para conhecer o potencial dos parreirais com a exposição da uvas e a força da indústria local (espaços localizados no Centro de Eventos), depois para que aproveitasse a gastronomia da região e, por fim, fizesse compras.
A mudança foi baseada em pesquisas que indicavam que o visitante se cansava ao circular pelo parque com sacolas de compras, ao mesmo tempo que permitiu redução de custos com segurança, uma vez que o Pavilhão 2 é fechado.
Novos espaços voltados à moda e crianças e o retorno do Som & Luz
Pela primeira vez, a Festa da Uva trouxe novos espaços, como o Tendenza, que colocou a indústria da moda local em evidência. Localizado no Pavilhão 1, o setor inovou ao trazer empresas e artistas ligados ao segmento, exposição, ao mesmo tempo que promoveu editoriais de moda em meio ao passeio dos visitantes.
Outro espaço elogiado pelos visitantes foi o Téti (Festival de Arte e Cultura para a Infância), no Pavilhão 2, que proporcionou para as crianças de zero a 12 anos uma programação com espetáculos, apresentações, oficinas e atividades em diversas linguagens artísticas. Funcionou como um ambiente de acolhimento para as famílias e de envolvimento para os pequenos visitantes, muitas vezes contemplados apenas pelo parque de diversões.
O presidente da Comissão Comunitária da Festa da Uva, Fernando Bertotto, entende que esses setores podem permanecer na programação da próxima Festa da Uva, mas não necessariamente ocupando os atuais espaços dentro do parque.
— Tendenza e o Téti vieram para ficar, mas podem ser melhor explorados. Foi um piloto, deu certo, e podemos avançar em uma próxima Festa da Uva. O pessoal da montadora dos espaços, que viaja em eventos por todo o país, achou esse local fantástico. O visitante sinalizou que quer ver um desfile de moda, mas nesta edição não foi possível, e pode ser algo a ser agregado em uma próxima edição — comenta.
Ele avalia ainda que a tirolesa, atração realizada por uma empresa de turismo de aventura de Criúva, ajudou a movimentar a entrada no parque, além de também representar uma novidade. Bertotto lembrou também que o espetáculo Som & Luz, que retornou à programação do evento após seis anos, foi bem avaliado pela comunidade ao esgotar os ingressos em diferentes datas.
Dias de entrada gratuita
Benefício ausente em 2022 e disponibilizado em um único dia nas edições de 2016 e 2019, o passe livre para entrada no parque foi concedido em duas segundas-feiras neste ano, levando 56 mil pessoas aos Pavilhões — sendo 40 mil somente na segunda-feira (26).
— Foi um absurdo de gente, expositores nos pedindo para manter o parque aberto até mais tarde porque tinha público dentro dos pavilhões. Nunca vi tanta gente no sábado e no domingo, mesmo pagando. O público, quase 100% de Caxias, aproveitou a entrada gratuita e gastou esse valor do ingresso dentro do parque — destaca Bertotto.
Não cobrar o ingresso em duas datas foi possível devido à contrapartidas que a Festa da Uva fez após receber recursos públicos. Bertotto entende que o valor do ingresso, de R$ 20, é o mesmo praticado em outros eventos pelo Estado e ainda dá direito ao consumo da fruta.
— A Festa da Uva é um evento popular, tentamos dar a melhor condição para todo mundo, dentro das nossas limitações. A gente coloca a uva à disposição das pessoas para comerem à vontade dentro do parque, sem levar para casa, mas é uma operação muito cara — avalia.
O que também funcionou
- Tempo: os dias de sol predominaram durante a Festa da Uva 2024. Nenhum desfile precisou ser cancelado devido ao mau-tempo e nem as apresentações do espetáculo Som & Luz, que também é realizado ao ar livre. Nos fins de semana, com temperaturas próximas a 30ºC, ventiladores foram posicionados para ajudar a amenizar o calor.
- Valorização da gastronomia: a Vila dos Distritos figurou, mais uma vez, como o setor mais querido pelo público. Ver a polenta na chapa e sentir o cheiro do pão quentinho saindo do forno conquista caxienses e turistas. Ao mesmo tempo, o evento trouxe novidades, como restaurantes, que levaram pratos típicos, como massa e galeto, em meio aos tradicionais lanches de feiras, como xis e pizza.
- Grandes produções de alimentos: apesar da polêmica com o uso do termo "polentaço", a Festa da Uva organizou eventos que chamaram a atenção da comunidade, como a produção em grande quantidade de polenta, sagu e chimia de uva, aliada com a distribuição gratuita aos visitantes.
O que fica de lição para 2026
Nova organização no Pavilhão 2
Ao mesmo tempo que a Festa da Uva entende como acerto a instalação da feira multissetorial no Pavilhão 2, mudanças na organização dos estandes deste setor deverão ser avaliadas no futuro. Bertotto entende que o evento de 2026 poderá, por exemplo, explorar a organização dos espaços em formato de quadras (como um jogo da velha, com entradas e saídas em diferentes pontos, como ocorre na ExpoBento e Fenavinho, em Bento Gonçalves).
Caberá ao expositor ter criatividade para chamar a atenção do visitante, que terá mais poder de escolha na definição do passeio. Nesta edição, o evento recebeu reclamações de comerciantes, que avaliaram que o público estava indo embora antes de passar no Pavilhão 2. A insatisfação levou o evento a reforçar a sinalização dentro do parque, indicando pontos relevantes no passeio pelo parque.
— A gente sabia que ia dar alguns problemas com os expositores porque o visitante entrando pelo Centro de Eventos, passando na alimentação, indo na Vila dos Distritos, chegava mais cansado. Quando estava no Pavilhão 1, era meio que obrigatório passar pela feira. Todo mundo que estava no Pavilhão 2 comprou sabendo que o espaço era lá, ninguém foi empurrado. A nossa avaliação é que existe uma tendência de futuro a fazer o sistema de quadras e não o caminho indicado, como é hoje — avalia.
Melhor ocupação da Réplica de Caxias
Um dos lugares mais bonitos do parque, o mirante, instalado atrás do Pavilhão 2, ficou restrito para a distribuição gratuita de uva. Em determinadas datas, à noite, o local ficou vazio. Bertotto entende que é necessário melhorar a sinalização para levar o visitante até o local, assim como no Monumento Jesus Terceiro Milênio e no Memorial Atelier Zambelli.
Outro avanço a ser pensado é no entorno da Réplica de Caxias, que teve maior movimento neste ano em comparação ao evento de 2022. Mas a organização da Festa da Uva entende que ainda é possível avançar na ocupação das casas que representam a Caxias de 1875.
Sob responsabilidade da empresa Festa da Uva S/A (que não é a organizadora do evento e, sim, do parque), as estruturas foram locadas para diferentes operações, como sorveteria, gastronomia e venda de produtos. Algumas delas são ocupadas por entidades que organizam exposições, enquanto outras permaneceram fechadas.
— Dá para fazer chover na Réplica. A gente aproveitou a Festa da Uva para fazer isso. Quem está com comércio está contente. Mas dá pra fazer muito mais coisas pensando no futuro — avalia o presidente.
Explorar a divulgação do evento
A organização reconhece que a divulgação do evento foi prejudicada e atrasou. Enquanto rainha e princesas percorriam cidades da Serra e divulgavam a Festa da Uva em capitais, a cidade que sedia o evento demorou a sentir o clima do evento. Na prática, o público programou a ida aos pavilhões somente quando a Festa da Uva começou.
O que também pode ser avaliado
- Receptivo: diferentemente de 2022, o público foi recepcionado na entrada da Festa da Uva deste ano por grupos teatrais somente às quintas, sextas, sábados e domingos. Nos demais dias, a chegada no parque era quase que silenciosa.
- Shows somente aos sábados: ao mesmo tempo em que a organização entende que acertou ao concentrar shows nacionais em um único dia, ficou a impressão que as apresentações ficaram menores, diluídas em apenas três dias este ano.
- Abertura restrita: historicamente, a abertura da Festa da Uva é uma solenidade restrita para convidados e autoridades. Nesta edição, assim como nas últimas três festas, não houve a presença do presidente da República, como era tradição no início dos anos 2000. Sem as restrições impostas pela presença de um Chefe de Estado, o evento poderá pensar em uma abertura que aproxime a comunidade e possa envolver outros pontos da cidade.