Foi na sede do MDB de Caxias do Sul, na manhã do último sábado (03), que foram desfeitas as esperanças de que José Ivo Sartori fosse candidato a prefeito em 2024. Lá estavam lideranças de partidos que tratavam desta possibilidade e que receberam a notícia do próprio ex-governador.
Foi o último capítulo de uma novela que, pela lógica, nunca deveria ter existido. Não era plausível que Sartori, um político consagrado, desse um passo atrás na carreira, voltando a comandar a prefeitura. Certamente teria muita chance de se eleger, pelo peso do nome, mas a questão sempre foi outra: o que isso agregaria à trajetória dele, além de incômodos e desgastes desnecessários?
A resposta óbvia, de que acrescentaria muito pouco, desde sempre foi muito clara para a família. E a oposição da mulher e dos filhos foi a principal justificativa apresentada por Sartori para recusar. Na segunda e na terça-feira ainda houve alguma tentativa de reversão da decisão, mas a divulgação da nota tratando do assunto nesta quarta-feira (07) foi a medida final, para tirar qualquer dúvida que ainda existisse. Procurado pela coluna, o jornalista Marcos Sartori, filho do ex-governador, foi transparente sobre o que a família pensava:
— Quem decide esse tipo de coisa é ele, mas eu, minha irmã e minha mãe éramos contra, e sempre deixamos claro. Não acredito que tenha sido só isso, mas nas poucas vezes em que falávamos sobre política, ponderávamos que ele não deveria ir — afirmou.
Pessoas que acompanharam as tratativas também apontam a influência de fatores como o peso da idade (embora tenha saúde muito boa, Sartori completa 76 anos no fim deste mês) e a preocupação com a atual situação financeira da prefeitura de Caxias, bem menos tranquila do que no período em que ele comandou o Executivo municipal. Fica, porém, a questão do porquê o nome dele continuou sendo considerado, mesmo que os motivos que ao fim impediram a candidatura já eram conhecidos há algum tempo.
O primeiro fator foi a própria característica de Sartori. Historicamente enigmático e cauteloso nas declarações, muitos viam no silêncio dele um sinal de que o desfecho seria o mesmo de ocasiões passadas onde ele acabou sendo candidato. Outro motivo apontado por uma pessoa de outro partido, e que participou das negociações, foi o entusiasmo do presidente municipal do MDB, Carlos Búrigo, pela ideia. Se alguém como ele, bastante próximo ao ex-governador, tratava abertamente da questão da candidatura, é porque tinha chance de ocorrer. Búrigo defendeu a tentativa feita e ressaltou que a possibilidade de uma chapa encabeçada por Sartori realmente foi considerada.
— Minha empolgação era por causa de uma conversa que tivemos com ele antes do fim do ano, em que ele disse que tinha possibilidade de ir, sim, e que participaria das conversas. Nunca afirmou que iria (ser candidato), mas o partido, tanto estadual como municipal, trabalhavam com essa hipótese. Eu não nunca ia levantar uma coisa leviana, sem possibilidade. Ela existia e ele autorizou a gente a poder conversar com os partidos, com o nome dele como pré-candidato — informou Búrigo.
O fato é que, sem Sartori, o quadro eleitoral da cidade começa a se desenhar de forma definitiva, e com um cenário de renovação. Dos três pré-candidatos já colocados, dois (Denise Pessôa e Maurício Scalco) nunca concorreram ao cargo, e um novo nome do MDB vai acentuar este quadro de novidades.