Na última terça-feira (20), uma reportagem do Pioneiro aqui em GZH falou sobre a apreensão dos moradores do loteamento Campos da Serra, em Caxias do Sul, com a possibilidade de ampliação do número de moradores. Para explicar: não havia nada contra as pessoas que serão colocadas lá, e sim com o acréscimo do número de habitantes em uma área que já conta com grande déficit de estrutura.
E não tenho dúvida de que é um temor plenamente justificado. O Campos da Serra é um dos melhores exemplos de falha de planejamento e dificuldades de gestão pública que temos em Caxias do Sul. E não é um problema de uma administração só, pois as coisas nasceram erradas, e quem veio depois não conseguiu ajustar o passado, e até reincide em alguns equívocos.
O Campos da Serra nasce na segunda metade da década de 2000, pois naquele momento o município precisava destinar uma área para receber os empreendimentos do Programa Minha Casa, Minha Vida, em rápida implantação pelo Governo Federal. Em uma cidade de relevo acidentado e terrenos caros como Caxias do Sul, era preciso buscar um novo espaço, com valor acessível e tamanho suficiente para receber os diversos condomínios planejados.
A decisão foi aproveitar uma área na Zona Leste de Caxias, no bairro São Luiz, então um local ainda majoritariamente rural, mas que se urbanizava rapidamente. Entendo os motivos e a escolha feita na época, pois havia uma lógica econômica e urbana. O problema veio depois.
O bom senso mandaria que, se você vai transferir um grande contingente de pessoas (hoje são cerca de 1,8 mil famílias) para longe, em um ponto onde não existe nada, o mínimo que deve ser feito é prever a construção de uma estrutura básica. Só que isso não foi feito de início. Pior, passados mais de 12 anos de inauguração da primeira unidade, muita coisa ainda não foi feita. Não há uma escola de ensino fundamental destinada especificamente ao loteamento e a UBS e o transporte coletivo são apontados como insuficientes. Enfim, os moradores foram colocados lá sem estrutura, e assim continuam.
Um velho ditado diz que o que nasce errado, termina errado. A esperança, obviamente, é que esta máxima não se confirme neste caso, e que um dia se consiga corrigir e ajustar o que foi feito no passado, especialmente porque a tendência é o número de moradores do loteamento e arredores seguir aumentando. Por isso, não me parece uma boa ideia colocar mais habitações no local agora, sem resolver as pendências. Isso só aumentaria os déficits e levaria mais dificuldades às pessoas.
E além das correções necessárias, é importante que o Campos da Serra sirva de exemplo para projetos futuros. É óbvio que precisamos urgentemente de programas habitacionais de grande porte. Essas construções, no entanto, precisam de um planejamento mais amplo, que tenha como objetivo levar uma melhora de vida completa às pessoas, e não apenas trocando um problema por outro.