A notícia do encerramento das atividades da Banca da Ana, divulgada aqui em GZH nesta sexta-feira (27), não chega a ser uma surpresa. Há muito se sabe que este é um setor econômico que passa por mudanças e dificuldades, e que luta para se manter ativo e relevante. Mesmo assim, é uma notícia triste e ruim, pela carga de lembranças que traz e por significar mais uma perda no visual do Centro de Caxias do Sul.
Há uma boa dose de saudosismo aqui, admito. Bancas de revistas sempre foram um ponto que gostei de visitar, especialmente na minha infância e adolescência. Conferir as últimas novidades das revistas e álbuns e comprar aquilo que o dinheiro alcançava eram um ponto fundamental dos passeios pelo Centro. Ah, isso incluía também visitas às lojas de discos.
A colocação destes dois tipos de estabelecimento no mesmo capítulo da lembrança, de certa forma, já explica um pouco o que está acontecendo. As lojas de disco ficaram no passado porque o mundo da música mudou totalmente, e elas deixaram de fazer sentido. Algumas décadas depois, isto também acontece com as bancas, já que a digitalização das mídias diminuiu de forma constante a circulação de impressos. Puxando pela memória, confesso que não consigo lembrar quando foi a última vez que fui a uma banca comprar uma revista.
Com a queda na procura, as vendas obviamente diminuíram, e a lógica implacável da viabilidade financeira começou a se aplicar. E essa é uma realidade ampla, que atinge outros setores. Uma reportagem publicada na Zero Hora deste sábado (28) mostra o problema enfrentado, por exemplo, pela tradicional Feira do Livro de Porto Alegre. O evento, em 15 anos, viu o comércio de livros diminuir 38,73%, enquanto o número de bancas expositoras caiu de 121 para 72. Se um evento deste porte se vê diante de um desafio assim, o que resta para pequenos empreendimentos como as bancas?
No entanto, além das considerações saudosistas e mercadológicas, este fechamento convida a refletir sobre o Centro da cidade. É mais uma perda para a Praça Dante Alighieri, já acossada por problemas como a sujeira e a insegurança, e que agora tem menos um espaço de convivência.
A outra banca existente no local já tinha fechado. O parquinho infantil foi suprimido por uma reforma e as identificações dos monumentos foram furtadas ou retiradas (para não serem também furtadas).
Uma praça com mais movimento e convivência teria evitado o fechamento das bancas de revista? Talvez não, pois como já citamos há questões de hábitos e mercados que mudaram muito rapidamente. Mas é visível que o ponto central de Caxias tem passado por um processo de esvaziamento preocupante, e que agora perde mais uma referência.