Os 30 leitos das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatais de Passo Fundo, distribuídos entre o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e Hospital de Clínicas, estão ocupados nesta terça-feira (9). Ambos são referência para a Região Norte e não podem receber pacientes.
A lotação segue desde o fim de semana, quando um recém-nascido morreu esperando por uma vaga na madrugada de sábado (6), em Frederico Westphalen. A família esperou cerca de nove horas por uma vaga por causa da situação grave em que o bebê se encontrava.
O Hospital Divina Providência, onde o bebê nasceu, solicitou o leito de UTI neonatal junto ao sistema Gerint (Gerenciamento de Internações Hospitalares do RS) assim que a equipe médica analisou as condições de saúde do recém-nascido. A reportagem de GZH teve acesso ao protocolo da solicitação de leitos onde mostra que houve possibilidade de leito reserva em dois hospitais de Passo Fundo.
No documento, consta que o médico responsável acionou as duas instituições por volta das 22h e ambos responderam que não havia vagas por causa da superlotação. Na sequência, há o registro da morte do recém-nascido, às 0h18min. Nesta terça-feira, os 20 leitos do HSVP seguem ocupados, assim como os 10 leitos disponíveis no Hospital de Clínicas.
Relembre o caso
Anthony de Lima Almeida nasceu às 16h24min de 6 de abril, com 32 semanas de gestação. Por causa de complicações, ele precisava de um leito em UTI neonatal e transferência para outra cidade, uma vez que Frederico Westphalen não oferece esse atendimento. A criança morreu no começo da madrugada antes de conseguir vaga nos hospitais da região.
A família registrou um boletim de ocorrência e a Polícia Civil investiga o caso. Segundo o delegado responsável pelo caso, Jacson Boni, o hospital encaminhou o prontuário de atendimento médico, que está sob análise da Polícia Civil. A fase de depoimentos ainda não começou.
A reportagem procurou a Secretaria Estadual de Saúde (SES), que informou que todos os pacientes que necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. Leia na íntegra:
"A Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS) informa que, em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a todos os pacientes que aguardam por atendimento e seguem o devido processo técnico de regulação, não pode fornecer dados sobre casos específicos. Pacientes que necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. É esta avaliação que determina as prioridades, a situação de saúde e as condições de transporte do paciente, entre outros critérios. Dessa forma, é possível definir o momento adequado e seguro para a realização de procedimentos e transferência de pacientes".
Hospitais-referência estão a 150km de distância
O sistema da SES aponta que Frederico Westphalen tem os hospitais de Passo Fundo e Erechim como referência para atendimentos de UTI neonatal. São mais de 190 quilômetros até Passo Fundo e pelo menos 148km até Erechim, viagens que levam em média duas horas.
A 81km de Frederico Westphalen fica Três Passos, que registrou duas mortes de bebês que esperavam por UTI neonatal em menos de 20 dias no mês de janeiro e também tem Passo Fundo e Erechim como referência para o envio de bebês que demandam atendimento intensivo neonatal. Nesse caso, a distância entre Três Passos e Passo Fundo é de 230km, uma viagem de cerca de três horas.
A distância e falta de unidades de UTI neonatal em regiões do RS fazem com que entidades, como a Associação Pró-UTI Neonatal e Pediátrica do Rio Grande do Sul e o Sindicado Médico do RS (Simers), alertem sobre a necessidade em abrir esses leitos nos hospitais gaúchos.
Conforme o Simers, 130 cidades estão sem pediatras e mais de 30 maternidades foram fechadas nos últimos cinco anos no estado. De 2019 para cá, a redução nas vagas em UTIs neonatais foi de 16%.