Passo Fundo foi a primeira cidade do interior do Rio Grande do Sul a utilizar a cirurgia robótica, segundo o presidente do Comitê Médico de Robótica do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), médico cirurgião Milton Bergamo. A utilização da tecnologia para qualificar os procedimentos cirúrgicos foi implementada há pouco mais um ano nas instituições de saúde da cidade e oferece diversos benefícios, segundo os profissionais.
Na cidade, são três equipamentos robóticos que permitem um procedimento mais seguro e menos invasivo para o paciente. Além disso, as plataformas qualificam as habilidades médicas e tornam os procedimentos complexos menos cansativos para os cirurgiões.
O HSVP conta com dois robôs: o CORI, que é utilizado em cirurgias ortopédicas desde maio de 2022, e o Versius, que atende diferentes especialidades desde abril deste ano. Os dois equipamentos realizam mais de 35 procedimentos cirúrgicos diferentes, em cinco áreas: cirurgia geral, ortopedia, ginecologia, proctologia e urologia.
O Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HCPF), por sua vez, possui o sistema robótico Vinci X, que atua em oito especialidades, desde cirurgia geral até ginecologia e urologia. O equipamento começou a operar em março deste ano e já realizou 46 procedimentos.
De acordo com o médico do HSVP, Milton Bergamo, foram quase 160 cirurgias realizadas pelos dois robôs do hospital. Destas, 140 foram para procedimentos ortopédicos com auxílio do CORI, que ocorrem desde o ano passado, e 18 cirurgias no Versius, que opera desde março deste ano, conforme atualização até quarta-feira (14).
Benefícios dos robôs
Segundo o cirurgião geral do HSVP, a utilização dos robôs possui diversos benefícios e se diferencia do procedimento que, até então, era realizado, com a videolaparoscopia. No caso do procedimento que ficou conhecido na década de 1990, ele é realizado com acesso de uma câmera na cavidade do paciente, com pinças que tinham movimentos, mas que eram limitados.
Atualmente, os robôs permitem menor invasão ao paciente, melhor qualidade de imagem e visualização aos médicos com visão tridimensional, movimentos de rotação e curvaturas próximos ao de punho humano, além de oferecer maior conforto aos médicos, diminuindo cansaço e estresse em procedimentos mais demorados, conforme aponta o médico.
— A tendência, nas últimas décadas, é sempre tornar a cirurgia minimamente invasiva, com menos agressividade, menos intervenção, menos cortes e medicação. Quanto menos, melhor. Na década de 90, nós tínhamos a videolaparoscopia, que acessava a cavidade do paciente com câmera e pequenas pinças, mas que eram mais rudimentares, com limitação de movimento. Essa limitação não existe nos robôs ou, pelo menos, é minimizada — explica Bergamo.
Para o médico, a maior vantagem da utilização do robô em procedimentos cirúrgicos é a resolução de problemas complexos com técnica minimamente invasiva.
— O robô tem muito mais vantagens, com visão tridimensional, alta definição de imagem, manipulação e movimentos melhores. Isso permite fazer procedimentos mais complexos, que não conseguiriam ser feitos por videolaparoscopia, ou fazer de forma mais delicada — completa.
Tecnologia vem para ficar
O diretor técnico do HCPF, médico cirurgião Juarez Dal Vesco, acredita que a utilização da robótica na medicina será cada vez maior. Na visão do profissional, a contribuição é de via dupla, tanto para o paciente quanto para o médico.
— A tecnologia robótica, inevitavelmente, já entrou na medicina. Cada vez mais será utilizada e difundida. Pelo nosso olhar, existirão várias plataformas e vários robôs para diferentes especialidades no futuro. São plataformas que contribuem para todos envolvidos nos procedimentos cirúrgicos — enfatiza.
Segundo Dal Vesco, o custo dos robôs ainda é considerado alto. No caso do Hospital de Clínicas, o investimento no Vinci X, beira cerca de US$ 2 milhões, ou seja, quase R$ 10 milhões, na cotação atual.
Os valores ainda afastam o acesso das plataformas ao sistema único de saúde (SUS), por exemplo. No entanto, o médico acredita que a presença dos robôs será uma realidade.
— A gente acredita, sim, que os robôs possam chegar ao sistema público. Isso demora um pouco, claro, porque é uma tecnologia com custo elevado, assim como foi com a videolaparoscopia, que iniciou com pacientes privados, depois foram absorvidos por planos de saúde e, depois, no sistema público. Na minha opinião, isso também vai acontecer com a robótica. O custo ainda é alto, mas se difundindo, diminui e será incorporado ao SUS. Não tenho dúvida disso — avalia.
Paciente recomenda uso de robôs
Em abril deste ano, a paciente Juceli Bedin, de Nova Alvorada, distante 65 quilômetros de Passo Fundo, foi a primeira a ser operada no pâncreas, no HCPF, com a utilização de um robô. Segundo ela, houve resistência inicialmente por ser uma novidade. No entanto, não se arrependeu e recomenda a todos.
— Eu tinha três opções de procedimento, sendo que uma era a robótica. De primeira, eu descartei. Mas fui convencida, e foi a melhor coisa que fiz — conta.
Juceli pontua os principais benefícios: procedimento menos invasivo e recuperação no pós-operatório.
— Eu não senti nada na cirurgia, foi muito bom. A minha recuperação foi muito tranquila, sem complicações. Senti um pouco de dor no primeiro dia e depois não tinha nada. O medo que tinha de ser um robô sumiu, hoje eu aconselho todos a fazerem procedimentos com robô. É uma diferença muito grande — completa a paciente.
Os robôs
O robô Vinci X é composto por três módulos: o console de controle, que é gerenciado pelo cirurgião, quatro braços robóticos e suporte de câmera de alta definição – controladas pelo cirurgião através do console – e também a torre de vídeo, onde é possível a visualização de imagens de alta definição disponível para toda a equipe cirúrgica que acompanha o procedimento.
Segundo o HCPF, a tecnologia utilizada pelo sistema Intuitive da Vinci é elencada como a mais moderna para este segmento no mundo e, por sua estrutura, este é considerado um sistema cirúrgico robótico completo.
O robô CORI foi a primeira aquisição do HSVP para ser utilizado em cirurgias de artroplastia total de joelho e futuramente em procedimento de quadril. Com o uso de uma câmera fixada na articulação e de sensores no joelho, o equipamento robótico de segunda geração transmite em um monitor a tomada exata de medidas da área a ser operada guiando o trabalho médico.
Já o Versius é a última plataforma a entrar em operação clínica no mundo, em 2014. Segundo o HSVP, é um dos oito exemplares existentes no Brasil. Por ter uma estrutura compacta e móvel, ele atende as particularidades de diferentes especialidades, permitindo que a sua tecnologia seja acessada por um número maior de pessoas.
Atualmente, o equipamento realiza cirurgias nas região do abdômen com técnicas minimamente invasivas, redução de riscos de infecções e um pós-operatório mais rápido.
GZH Passo Fundo
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