Uma pesquisa de mestrado realizada na Universidade de Passo Fundo (UPF) mostrou a relação entre exposição aos compostos presentes em inseticidas de tomadas e a aceleração de marcadores de doenças neurodegenerativas. Na análise foram utilizados compostos presentes nas marcas de inseticida mais comuns à venda para uso doméstico, como a praletrina e a transflutrina.
— O que mais chamou atenção da comunidade científica foi essa possível ligação do uso desse tipo de inseticida, tido como seguro aos humanos, como progressão de doenças neurodegenerativas. Em uma pessoa com pré-disposição a essas doenças, pode sim acelerar ou antecipar a apresentação. A pesquisa deixa um sinal de alerta — explica o professor orientador e doutor em Fisiologia, Leonardo Barcellos.
O estudo teve duração de cerca de um ano, e foi tema da tese de mestrado do biólogo Wagner Tamagno, mestre em Farmacologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em convênio com a UPF e o IFRS, campus Sertão. Na testagem, foram utilizados vermes e vertebrados que foram expostos a uma dose calculada com base na concentração do composto liberado nas residências, levando em consideração o uso por oito horas diárias, em até 30 noites.
— Quis testar com inseticidas para fugir um pouco da área rural. Então pensei em algo que está presente nas casas brasileiras, tido como inofensivo, e que tem seu uso ainda mais potencializado por conta da contaminação de dengue, chikungunya e zika. E os resultados obtidos com esses modelos são aplicáveis aos genomas humanos, são sinais importantes que apontam para um futuro de pesquisa — relata Wagner.
As publicações de artigos e reconhecimentos na área científica, frutos da pesquisa, renderam currículo para que Wagner ingressasse em universidade no exterior. Atualmente, ele cursa o PHD em toxicologia na Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. Os resultados obtidos em Passo Fundo levantaram o alerta da comunidade cientifica mundial, e a pesquisa com testagem em níveis maiores.
Alternativas para o produto
Para quem faz uso desses aparelhos diariamente, a dica dos pesquisadores é procurar por opções naturais, como repelentes caseiros, ou mudar ações do dia a dia.
— Não dá mais para dizer que esses produtos são inofensivos aos humanos. O que podemos recomendar agora é o menor uso possível, e procurar outras alternativas, como fechar as janelas mais cedo e reduzir ao mínimo o uso desses remédios — adianta Barcellos.