Apesar de não ter sido tão afetado quanto as regiões do Vale do Taquari, Vale do Rio Pardo, Serra e Região Metropolitana, o norte gaúcho registrou estragos, desalojados e desabrigados depois da chuva que castiga parte do RS desde o começo de maio. A diferença, segundo meteorologistas, são os efeitos da chuva sobre a altitude e geografia regional.
Nos dados do AdaptaBrasil, plataforma do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) criada em 2020 que reúne índices e indicadores de risco de impactos das mudanças climáticas no Brasil, a Região Norte reúne o menor número de municípios com risco alto ou muito alto de ameaça de inundações, alagamentos e enxurradas.
Apesar disso, a região não está livre de receber altos índices de chuva. Conforme dados do Climatempo, de 1° de maio até quarta-feira (8) choveu 242 milímetros (mm) em Espumoso, 165% a mais do que a média histórica do mês. Em Soledade, o volume de chuva chegou a 459mm, 300% do esperado para todo o mês de maio. Já em Liberato Salzano, o volume de chuva chegou a 384mm entre os dias 1° e 2 de maio, segundo a prefeitura municipal. Em Barra do Rio Azul, foram 350 milímetros somente em 1º de maio, na localidade da Cabeceira dos Rios, de acordo com o Executivo municipal.
Segundo a Defesa Civil, a quantidade expressiva de chuva já era esperada para o período e o RS passou a integrar o alerta de perigo extremo em 2 de maio. Os prognósticos se confirmaram e deixaram um rastro de destruição: até 10 de maio, são 113 mortes confirmadas e 146 desaparecidos, conforme boletim oficial divulgado às 9h.
No entanto, a chuva demorou para chegar na região e, quando chegou, foi em menor escala. Para a meteorologista da Climatempo, Patricia Cassoli, a explicação se deve ao fator geográfico da região, localizada em área mais alta do território gaúcho, aliado ao bloqueio atmosférico no centro do país, que impediu que as chuvas chegassem com mais força na parte norte do Estado.
— A chuva nunca vai ser bem distribuída por todo o Estado. Então tem cidades que podem chover um pouco mais outras regiões um pouco menos, e a geografia influencia nisso. O que acontece é que os transtornos nas cidades do norte ocorreram devido ao grande volume de chuva em um curto espaço de tempo, que causou transbordamento de rios menores e córregos, por causa do curso dos rios. Mas, como são cidades que ficam localizadas nas cabeceiras dos rios, essa água, desagua no Guaíba e não fica represada na região — explicou.
Segundo a meteorologista, a água ficou presa na região dos Vales por razões geográficas, além do alto volume de chuva que caiu sobre a região. Com o aumento do nível dos rios nas áreas mais altas daquela região, a água teve dificuldade para escoar e acabou retida nas localidades, o que resultou em alagamentos e, por isso, deslizamentos.
Bloqueio atmosférico segue até 14 de maio
De acordo com a meteorologista, o bloqueio atmosférico deve acontecer até o dia 14 de maio. Logo, a chuva vai continuar presa no Rio Grande do Sul, com prognósticos de volumes acima do normal, principalmente na metade norte do estad0.
De sexta-feira (10) até segunda-feira (13), a previsão é de um cenário parecido com o que aconteceu na última semana, quando fortes temporais atingiram dezenas de municípios gaúchos. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), há riscos geológicos e hidrológicos para quase todo o Estado.
De acordo com a Climatempo, em maio costuma chover entre 100mm e 180mm no Rio Grande do Sul. Considerando os temporais da última semana, alguns municípios, como Santa Maria, já ultrapassaram esse valor em, pelo menos, três vezes. Nos primeiros 10 dias de maio, a cidade da Região Central registrou 493,5mm de chuva, segundo dados do Inmet.
Diferente do começo do mês, agora o Rio Uruguai apresenta o maior risco hidrográfico, na metade norte do RS. Além disso, até segunda-feira (13) a previsão é de acumulado de 300mm no norte gaúcho. Veja abaixo: