O município de Barra do Rio Azul, no norte gaúcho, estuda a possibilidade de uma mudança definitiva: levar o comércio e as casas para uma distância segura dos rios Paloma e Azul, que transbordaram e causaram a inundação da cidade de 1,9 mil habitantes duas vezes nos últimos seis meses.
De acordo com o prefeito Marcelo Arruda, o município faz um estudo com o curso de Engenharia Civil da Universidade Regional Integrada (URI) de Erechim para analisar a possibilidade de realocação. O destino seria uma área comprada para o distrito industrial da cidade, a 600 metros de distância em linha reta do centro da cidade. Em caso de mudança, Barra do Rio Azul ficaria a 460 metros de altitude em relação ao nível do mar, 30m a mais que o atual.
A distância reduziria o risco das casas, que hoje ficam a cerca de 15 metros dos rios, serem atingidas por enchentes. Outra possibilidade, porém paliativa, seria alargar o curso do rio, o que poderia repercutir na necessidade de realocação de alguns moradores. O objetivo, segundo Arruda, é dar segurança aos moradores e evitar que pessoas comecem a deixar a cidade por medo de novas inundações.
— Não tivemos nenhuma vida perdida, mas entendemos que chegou o momento de enfrentar o problema porque não podemos esperar uma terceira enxurrada. Na última (enchente), pensamos que havia sido a maior da história e essa, agora, foi ainda mais grave. Compramos uma área para o distrito industrial e vamos apresentar esse estudo à população, pedir linhas de crédito aos governos estadual e federal, e viabilizar uma situação. Precisamos pensar a longo prazo — disse.
A URI Erechim confirmou que há um projeto em andamento, mas, como a análise é inicial, não é possível afirmar nada de concreto sobre a viabilidade, ou não, da mudança. Além disso, não há prazo para a apresentação do estudo.
O que pensa a população
O assunto foi discutido pelos moradores nesta segunda-feira (6), enquanto trabalhavam para limpar a cidade e reconstruir o que foi levado pela água na semana passada. Atingido pelas duas enchentes, o farmacêutico Adinei Santori é cético sobre uma eventual mudança.
— Se é para se mudar, tem que ser para um lugar seguro, que não seja morro e não fique tão próximo de rios. Precisa ser uma cidade planejada para que não venha a ocorrer o mesmo no futuro. Caso nos peçam para sair, não sei como seriam os custos, mas se as pessoas precisassem bancar, é muito improvável que isso aconteça. Nós só não vamos embora porque vivemos aqui, investimos na cidade. Se não tivesse esse comprometimento, é difícil ficar — disse.
Angélica Bury, que ajudava na limpeza da casa e do comércio dos pais na manhã de segunda-feira, também relata incerteza sobre uma possível mudança de lugar.
— Eu ainda acho o alargamento dos rios a melhor possibilidade, porque é muito improvável o pessoal querer sair e ir para outro ponto. Ao mesmo tempo, como está não dá mais. Algo precisa ser feito. Nós não tínhamos nem conseguido nos reerguer da última (enchente). Agora tudo foi embora de novo — pontuou Angélica.
Independente da escolha, o aposentado Antônio Rozzeto espera que os filhos o ajudem se eventualmente perder sua casa por causa da chuva.
— Esse é o tipo de coisa que a gente nunca sabe se vai acontecer de novo. Mas, se acontecer, o que vai ser dessa turma aqui? Se eu tivesse sido atingido, não tinha como construir outra casa. Os filhos iam ter que me recolher, né?