O número de pessoas que concluem a primeira habilitação reduziu significativamente nos últimos 10 anos em Passo Fundo. Em 2013, 6.126 pessoas tiraram a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias A e B, enquanto em 2023 foram 3.627, uma redução de 40,8%. O número acompanha os índices do RS, que registrou uma baixa de 38,8% no mesmo período.
Em 2023, Passo Fundo emitiu 3.598 novas CNHs, um aumento de 0,8% na comparação com 2022. Esse foi o maior número desde 2019, pré-pandemia, quando foram emitidas 4.780 primeiras vias da carteira de motorista, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (DetranRS) (veja a redução no gráfico abaixo).
Segundo o diretor-geral do Detran RS, Mauro Caobelli, desde a pandemia foi possível perceber uma mudança no comportamento dos jovens aptos a fazer a primeira habilitação.
—Além das muitas opção de transporte, especialmente a facilidade e comodidade dos aplicativos, também há uma inclinação forte para a adoção de meios de transporte sustentáveis para pequenas distâncias, como a bicicleta e deslocamentos a pé. Outra hipótese é que ter veículo próprio não é mais uma aspiração tão presente entre os jovens de hoje, que estão preferindo outras coisas, como viagens e experiências — disse.
Caobelli acrescenta que a popularização do trabalho remoto e fatores econômicos, por causa do alto custo da CNH, também influenciam na redução da procura. Hoje a pessoa que quiser fazer a primeira habilitação precisa desembolsar R$ 2.473,84 na categoria B (carro) ou R$ 4.167,69, caso opte pela AB (carro e moto).
No entanto, os preços devem sofrer um reajuste a partir de 1° de fevereiro, quando uma nova tabela de preços passa a valer no RS, ainda não divulgado. O novo valor tem como base a Unidade Padrão Fiscal (UPF), o que significa que o reajuste deve ser de 4% a 10%.
Mudança vista na prática
Esse ponto de vista é compartilhado pelos centros de formação de condutores (CFCs). Segundo Antônio Carlos dos Santos, diretor-geral de um desses estabelecimentos em Passo Fundo, a redução na procura da primeira habilitação se deve ao fato de que a CNH não está mais entre as prioridades dos jovens que completam 18 anos.
— A popularização de outros meios de transporte, principalmente dos carros de aplicativo, fez com que houvesse uma mudança comportamental no público entre os 18 a 24 anos. O fortalecimento das fiscalizações de Balada Segura também ajudam para uma conscientização maior dos jovens desta geração, que evitam beber e dirigir. Tudo isso são fatores que, somados, tiram a CNH das prioridades desse público — comenta.
É o caso do jovem Bernardo Augusto Dalpiaz, 18 anos. Ele deu entrada nos papéis da primeira habilitação nesta sexta-feira (19) depois da insistência do pai e por levar em conta os gastos com transporte de aplicativo. Segundo ele, se não fosse por isso, a CNH não estava em seus planos.
— Comecei a ver que meus gastos com carros de aplicativo giram torno de R$ 750 por mês. Além disso, a falta de autonomia na mobilidade acaba que de certa forma afeta todos da família, por que muitas vezes eles precisam parar o que estão fazendo para me levar em algum lugar. Só por isso decidi fazer — conta.
Enquanto isso, o aumento em 2022 e 2023 está atrelado à demanda reprimida durante a pandemia, afirmou Santos, mesmo que ainda esteja muito abaixo do que era há 10 anos.
— Com a covid-19, houve uma queda brusca nas emissões de CNH. Mas os números estão voltando a patamares pré-pandemia. E, apesar de não ser mais uma prioridade para os jovens, virou um item de desejo entre as pessoas com mais de 60 anos, que têm buscado mais o serviço — disse o diretor do CFC.