Em meio à pandemia de covid-19, uma das alterativas encontradas por empresas e governos foi o trabalho remoto. Passados os dias mais turbulentos da pandemia, modelos híbridos para as horas contratuais ganharam a preferência de uma parcela dos trabalhadores e se encaixaram nas estratégias e rotinas do setor público e privado.
Em 2022, ainda sob o efeito da retomada da atividade econômica no início do ano, 482 mil trabalhadores gaúchos estiveram em teletrabalho (o equivalente a 8,4% dos 5,7 milhões de trabalhadores no Estado). Significa que realizaram suas atividades profissionais remuneradas ao menos um dia por mês fora do local habitual e utilizaram para isso equipamentos de tecnologia da informação e comunicação (TIC) em suas tarefas.
Os números, divulgados nesta quarta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que, no país 7,4 milhões, de pessoas estavam em teletrabalho, considerado um subgrupo do trabalho remoto.
No mesmo período, 9,5 milhões de pessoas trabalharam remotamente no país, o que inclui, além dos teletrabalhadores, aqueles que não usavam equipamentos de TIC. No RS, esse contingente era de 569 mil, ou seja, quase 10% do pessoal ocupado.
De acordo com os dados, um quarto das pessoas ocupadas no setor de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas realizou teletrabalho em pelo menos um dia no período de referência da pesquisa.
Profissionais de apps têm carga horária superior
Coordenador da PNAD Contínua no Rio Grande do Sul, Walter Rodrigues destaca que, no ano passado, 1,5 milhão de pessoas trabalharam por meio de aplicativos de serviços no país. Do total, 52,2% (ou 778 mil) exerciam o trabalho principal por meio de aplicativos de transporte de passageiros. Outros 39,5% (ou 589 mil) eram trabalhadores de aplicativos de entrega de comida, produtos, etc., enquanto os trabalhadores de aplicativos de prestação de serviços somavam 13,2% (197 mil).
No Estado, explica Rodrigues, 97 mil utilizavam plataformas digitais de serviços ou comércio em sua atividade principal. Deste total, 71 mil, ou 73%, era o contingente dos que atuavam com serviços. O detalhe, aponta o estatístico, é que nesse segmento, apesar de ser o quinto com a maior quantidade de pessoas em plataforma digitais, o rendimento médio real não repetia o mesmo desempenho no RS.
A média de carga horária nessas plataformas, no Estado, alcança 50,8 horas (a maior do Brasil), enquanto a de salários chega a R$ 2.917 (a oitava do país).
— Significa que os plataformizados trabalham 10 horas a mais para obter renda somente R$ 45 superior. No Brasil, a diferença é de seis horas entre uma categoria e outra para salários R$ 135 maiores — resume.
Pesquisa reforça desigualdades regionais
Para Oscar Frank, Economista-chefe da CDL Porto Alegre, a diferença salarial entre os que estão ou não em atividade de teletrabalho, ao contrário do que acontece com os plataformizados, chama a atenção e reforça que essas funções são correlatas à atividades que demandam por mais qualificação.
Segundo ele, os dados inéditos divulgados pelo IBGE também demarcam que as desigualdades regionais do Brasil têm reflexo no potencial de teletrabalho de cada Estado. E aponta: no Distrito Federal, a maior renda média, o percentual chega a 31,6%. São Paulo e Rio de Janeiro também ficam acima do potencial nacional, com 27,7% e 26,7%, assim como os três estados da Região Sul.
— O restante do país tem percentuais menores que a média de 22,7%, sendo os menores no Piauí, com 15,6%, Pará, com 16%, e Rondônia, com 16,7% — comenta.