A Polícia Civil indiciou nessa quinta-feira (6) dois médicos suspeitos de negligência no atendimento de Valentina Olanda Spesotto, de 10 anos, que acabou morrendo em Passo Fundo por conta da dengue no mês de abril.
De acordo com a delegada Daniela Minetto, a investigação apontou uma cadeia de erros que teriam levado Valentina à morte. A menina foi atendida por seu pediatra dias antes de morrer, mas foi medicada sem um teste para dengue. Quando seu quadro piorou, a família procurou o Hospital São Vicente de Paulo, mas a demora no atendimento por parte de uma médica teria contribuído para a morte, conforme a delegada.
— Com relação ao pediatra da Valentina nós entendemos que nove dias antes do óbito dela, ela tem uma primeira consulta e ele entende que ela está somente com um problema de garganta e a medica. Cinco dias depois, cerca de dois dias antes do óbito dela, ela retorna com febre e os pais questionam se ela poderia estar ou não com dengue. Ele entende que não, e não submete ela ao exame de dengue em um momento que nosso município estava com um pico da doença. A gente entendeu que se estabelece negligência do pediatra nesse sentido — conta.
Sobre o atendimento recebido por Valentina no Hospital São Vicente de Paulo, a delegada diz que, após a confirmação do caso de dengue, houve demora para que a médica fosse atender a menina. Depoimentos à polícia relatam que a enfermeira-chefe tentou contato com a pediatra, mas ela só respondeu após duas horas.
— Com relação à médica que atendeu Valentina no hospital, houve uma questão de demora do atendimento após a confirmação de que efetivamente ela estava com a doença. Essa demora é relatada por vários profissionais da enfermagem do próprio hospital. Isso estabelece a negligência e uma certa omissão por parte desta profissional — explica a delegada.
A reportagem de GZH Passo Fundo procurou a defesa do médico, Gaspar Fontoura Mariano Da Rocha Filho, que atendeu Valentina inicialmente. Por nota, o advogado José Schneider informou que ainda não teve acesso ao indiciamento, mas que seu cliente "colaborou com a investigação, prestando suas declarações, ocasião em que ficou demonstrado que sua conduta médica não possui qualquer relação com o lamentável e trágico evento morte".
A médica Simone Medeiros Beder Reis também foi contatada por GZH Passo Fundo. Em nota o advogado de defesa, Matheus da Silva Antunes, disse que a médica colaborou com as investigações, estando à disposição das autoridades competentes para o que fosse necessário. Afirmou ainda que "a correção e a lisura das condutas adotadas durante o plantão médico foram comprovadas em seus esclarecimentos perante a autoridade policial."
Também por meio de nota, o Hospital São Vicente de Paulo afirmou que "segue acompanhando e colaborando no caso junto aos órgãos oficiais que estão tratando do assunto". A instituição não respondeu se a profissional foi afastada das atividades.
A família de Valentina preferiu não se manifestar sobre a conclusão da investigação. O caso agora segue para o Poder Judiciário e deverá ser encaminhado para análise do Ministério Público.