Segundo estatísticas do Cartório do Idoso de Passo Fundo, no norte do Estado, as pessoas da terceira idade são as principais vítimas dos chamados golpes virtuais, crimes praticados por estelionatários, que lideram o ranking de denúncias nas delegacias locais.
A escrivã de polícia, que atua no atendimento e investigação dos crimes contra idosos em Passo Fundo, Claudia Loeff Poglia, explica que os crimes virtuais se intensificaram no pós-pandemia, onde os idosos estão no grupo de vítimas mais atingido em razão da sua vulnerabilidade e do avanço da tecnologia que a cada dia cria novos meios de comunicação.
— Os infratores aderiram aos crimes virtuais pelo fato de ser mais lucrativo e de não expor o seu perfil físico. Dessa forma, os meios de comunicação virtuais e, nisso inclui os telemáticos, permitem que os golpistas se escondam atrás de uma tela de telefone celular para praticar os seus crimes, não havendo mais, dessa forma, um rosto ou um estereótipo do criminoso — conta.
De acordo com Claudia, o aumento dos estelionatos, nas mais diversas modalidades, é algo que vem preocupando, especialmente pelas formas, cada vez mais diferenciadas, que os estelionatários atuam. Ela frisa alguns cuidados que devem ser seguidos.
— Importante ressaltar para as vítimas que não forneçam seus dados por telefone. Costumo dizer que hoje os dados pessoais (RG, CPF, endereço, foto do rosto atualizada) têm mais valor que o dinheiro que ele tem na conta, pois os criminosos utilizam os dados pessoais das vítimas para habilitar contas em bancos digitais e cadastrar chips em operadoras de telefonia.
A Polícia Civil conta com uma cartilha destacando 20 dos principais golpes contra pessoas da terceira idade. Cinco deles são os mais comuns:
Golpe do familiar que quebrou o carro
É o golpe mais recorrente atualmente no Cartório do Idoso de Passo Fundo. O golpista liga aleatoriamente para a vítima e, ao ser atendido, usa frases genéricas como tio, tia, vó, vô. Caso a vítima diga um nome, achando ser algum sobrinho ou parente distante, o criminoso utiliza esta informação para prosseguir com o golpe. Ele então diz que seu carro quebrou e que precisa de ajuda, solicitando uma transferência para pagamento de mecânico, ferragem ou borracharia, por exemplo.
Golpe do cartão clonado
O golpista se passa por funcionário de uma administradora de cartão de crédito e informa que houve uma compra duvidosa no cartão da vítima e solicita que a pessoa confirme ou não a transação. Quando a vítima nega ter feito as transações e pede o cancelamento da operação, o falso funcionário informa que provavelmente houve uma clonagem e que, por isso, será necessário bloquear o cartão. O criminoso solicita que seja realizada uma ligação para o 0800 da administradora para realizar o procedimento.
O ponto fundamental deste golpe, no entanto, é que o golpista que está na linha não finaliza a ligação. O cliente do cartão disca para o atendimento da empresa e o criminoso coloca uma gravação como se fosse do banco. Na sequência, acreditando que está falando com uma pessoa da administradora, a vítima fornece dados pessoais e do cartão de crédito, incluindo senha e o código verificador. Depois de obter estas informações, o suposto atendente da empresa informa que enviará um funcionário ou motoboy que trabalha para o banco para recolher o cartão clonado. A vítima, então, dá o cartão cortado em duas partes, mas com os dados ainda legíveis e chip intacto. Com o cartão em mãos e sabendo os dados pessoais do cliente, os golpistas fazem compras em diversas lojas físicas e virtuais.
Golpe do falso empréstimo
Os golpistas fazem anúncios em sites, redes sociais ou até mesmo ofertas pelo WhatsApp com propostas tentadoras. Normalmente são oferecidos crédito fácil e rápido, juros mais baixos do que aqueles operados por instituições financeiras, possibilidade de pagamento em diversas parcelas sem consulta ao SPC ou Serasa e liberação de crédito mesmo a vítima estando negativada.
A partir do momento que a pessoa manifesta interesse na proposta, os criminosos passam a cobrar uma taxa para que haja a liberação do crédito. Entre as alegações utilizadas por eles para justificar o pagamento, estão supostas taxas de abertura de crédito, taxas exigidas pelo Banco Central, seguros de crédito, entre outras cobranças falsas.
Golpe do conto do bilhete
A vítima é abordada por uma pessoa humilde, que pede algumas informações e diz ter um bilhete de loteria premiado. Há casos em que o bilhete é substituído por um precatório ou uma herança a receber.
O golpista, suposto ganhador da loteria, alega ter medo de ser enganado na hora de resgatar o prêmio ou que não teria os documentos necessários para sacar o dinheiro ou que tem ações na justiça que o impediriam de receber a premiação. Em seguida, entra em cena um segundo criminoso, que simula falar com alguém da Caixa Econômica Federal para confirmar a veracidade do prêmio.
Na sequência, os golpistas convencem a vítima a transferir valores, entregar cartões e outros itens para o falso vencedor, como garantia para o recebimento do prêmio. A vítima acredita que ficará com parte do valor a ser recebido. Geralmente, eles acompanham a vítima até uma agência bancária para fazer o saque ou transferência, por isso, esse crime acaba acontecendo nas proximidades de agências bancárias.
Ao final, eles entregam o bilhete, que não possui nenhuma premiação.
Golpe do falso sequestro
O golpista, que normalmente já se encontra preso, liga de maneira aleatória para diversos números. A vítima atende e alguém simula uma voz de choro e medo, chama mãe ou pai, e diz que foi sequestrado. Assustada, a pessoa que atende ao telefonema costuma falar o nome de um filho, sobrinho ou de alguém próximo, mesmo sem perceber. Quando isso acontece, a própria vítima começa a passar informações que ajudam o criminoso a preencher as lacunas para completar o golpe. Com essas informações, o bandido faz a pessoa acreditar, cada vez mais, que se trata de um sequestro verdadeiro. A partir daí, o criminoso mantém a vítima na linha e pede que sejam realizadas transferências bancárias para a conta de algum laranja.
Dicas para evitar cair em golpes
- Não fornecer dados pessoais como CPF, RG, endereço, número de conta bancária ou senha para estranhos em ligações telefônicas, WhatsApp ou SMS
- Desconfiar sempre de preços de produtos e serviços muito abaixo do mercado
- Não conversar com estranhos na rua e muito menos aceitar propostas que possam lhe trazer alguma “vantagem”
- Aparências enganam. Estelionatários normalmente estão bem vestidos, falam bem e facilmente persuadem as vítimas
- Não trocar fotos nem vídeos íntimos pela internet ou rede social. Se a pessoa com quem conversa aparenta ser menor de idade, reforce ainda mais os cuidados. Armazenamento de material infanto-juvenil é crime
- Em caso de dúvida procure alguém da sua confiança e peça ajuda ou procure a delegacia mais próxima
Números para denúncias: 197, 181 ou 100
GZH Passo Fundo
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