Quatro equipes ainda lutam para chegar à final da Liga Nacional de Futsal (LNF): Jaraguá, Pato Futsal, Praia Clube e Umuarama. Mas, independente de qual delas passar nas semifinais neste fim de semana, os finalistas terão um longo caminho até o palco da grande decisão. Conforme anunciado pelos organizadores em julho, o confronto decisivo será realizado em Carlos Barbosa, aqui no Rio Grande do Sul, no dia 15 de dezembro.
O jogo único não é novidade desta edição da LNF, que em 2023 já adotou esse formato, atendendo um requisito da televisão para que o jogo fosse transmitido nacionalmente na TV aberta. Ainda assim, a questão vem dando o que falar — ainda mais depois que os ingressos começaram a ser vendidos a R$ 120.
"Imagina o torcedor do Praia Clube chegando na final. Só 1.500 km de distância de Uberlândia até Carlos Barbosa", destacou um usuário no perfil da LNF nas redes sociais. "Dia e horário péssimos para uma final de Liga. Ainda mais quando os times que vão disputar a final ficam longe da sede. Infelizmente, não pensam no torcedor", adicionou outro.
Entre os semifinalistas, a cidade mais perto de Carlos Barbosa é Pato Branco, no Paraná, que fica a 500 km de distância, o que certamente dificultará a logística das equipes. Além disso, os clubes estimam que deixarão de arredar até R$ 300 mil por não sediar a decisão em casa. Há, no entanto, vantagens com a transmissão em jogo único garantida na televisão, como maior visibilidade à modalidade e aos patrocinadores dos times (neste ano, a decisão da LNF será transmitida pela Band, SporTV e Cazé TV). E uma quadra neutra pode nivelar mais o jogo.
Essas questões dividem as opiniões até de quem poderá estar competindo pela taça dia 15. Entre os semifinalistas, alguns são favoráveis ao formato atual e outros contra.
Clubes divididos
— Eu fui um dos que votei a favor da final única, com uma condição. Que essa final fosse transmitida por um canal aberto, como foi o ano passado em Toledo, com a Globo. A modalidade teve recorde de audiência — destacou o diretor executivo do Pato, Daniel Nekel.
Ele ponderou, no entanto, que há perdas para os torcedores, que podem ter dificuldades de chegar a lugares como Carlos Barbosa, no interior do RS.
O supervisor do Umuarama, Marcos Paulo, por sua vez, destacou que a quadra neutra pode deixar a decisão mais equilibrada. Ainda assim, levantou a dúvida sobre mudar o formato apenas pela exposição na televisão.
— Eu concordo que para o clube é ruim devido à receita. No ano passado optaram por final única para transmitir na Globo em horário nobre. E se fez a final única exatamente por causa disso. Esse ano já não vai ter a Globo. Então, não sei até onde isso seria bom para os clubes, né?
O Praia Clube sugeriu que a decisão pela escolha da sede da final aguardasse a definição dos semifinalistas, para tentar levar a partida para um local mais conveniente para os envolvidos. Apesar disso não ter sido possível, o técnico Alemão é favorável ao formato.
— Eu não acho ruim de ter a final única. Eu estive na final ano passado em Toledo. Um evento sensacional, acho que a Liga consegue divulgar bem a questão desse jogo. Eu só discordo da forma como a Liga faz para escolher a sede.
O Jaraguá foi o único entre os semifinalistas que votou contra a decisão em final única. O superintendente da equipe, Junai Roza, acredita que o clube deixará de arrecadar até R$ 300 mil, caso chegue até a final.
— A gente entende que está privando o torcedor que acompanha o ano todo a equipe de estar num momento como esse. Nós temos uma média de mais de 3,6 mil pessoas por jogo na LNF. Nos playoffs a média é mais de 7 mil. E a gente sabe que a dificuldade que vai ser para o torcedor se deslocar até Carlos Barbosa — afirmou.
O que diz a LNF
O presidente da LNF, Cladir Dariva, destacou que o formato da final em jogo único foi votado e aprovado por ampla maioria, entre os 24 times participantes da Liga.
— Nós temos 24 equipes franqueadas. É óbvio que a gente não vai contemplar todo mundo. Isso é primeiro passo — disse.
Ele acrescentou que compreende o descontentamento dos torcedores, que precisarão "se distancia um pouquinho da sua casa", mas que há outras questões em jogo e que a Liga precisa "pensar no produto em si".
— A final em jogo único tem ganhos de visibilidade. Ganhos de merchandising. E vai privilegiar geralmente os patrocinadores que já estão conosco — afirmou.
Dariva não descartou, contudo, que o formato seja modificado para as próximas edições.
— Se no futuro os franqueados, que são os verdadeiros donos da Liga, entenderem que não devam fazer jogo único, a gente muda. (Mas) o que foi feito no ano passado, foi muito bem sucedido. A repercussão foi a melhor de todas.
O que dizem os clubes
Pato Futsal
O Pato Futsal busca o tricampeonato da LNF. O time paranaense votou a favor da decisão, desde que houvesse transmissão pela Globo. O clube estima que deixará de arrecadar pelo menos R$ 50 mil em bilheteira, se chegar na final, conforme o diretor executivo do Pato, Daniel Nekel. Se o formato em final única se manter para 2025, o clube irá trabalhar para levar a final em jogo único para Pato Branco, onde foi construída a sua nova Arena.
Leia na íntegra o que disse Nekel:
“Quando teve a reunião no início do ano, eu fui um dos que votei a favor da final única, desde que com apenas uma condição. Que essa final única fosse transmitida por um canal aberto, como foi o ano passado em Toledo, com a Globo. A modalidade teve recorde de audiência. Para o patrocinador é bom, né, porque você tem muito mais audiência num jogo desse, é um jogo decisivo, ainda mais transmitir um canal aberto.
O lado ruim da final única é exatamente para o torcedor. Tem os dois lados, né, tem o lado da exposição da marca, desde que a final seja transmitida por um canal aberto, mas se for para ser transmitido pelos mesmos canais que vem sendo transmitidos jogos normais, eu não vejo por que fazer final única.
O jogo não vai ser transmitido pela Globo. Com todo o respeito, mas não tem como comparar. Então, no final das contas, esse ano não foi vantajoso fazer a final única, porque, primeiro que assim, ficou uma cidade logisticamente ruim, né, fim de linha, não tem malha aérea, então ficou, ficou bem ruim, sabe, esse jogo em Carlos Barbosa para torcedor de qualquer time”.
Umuarama
O Umuarama tenta chegar na final da LNF pela primeira vez na história. O clube foi favorável à decisão em jogo único e acredita que, mesmo com investimento menor na montagem do elenco, pode chegar em condição de igualdade com qualquer outra equipe com a final em quadra neutra, conforme o supervisor do time, Marcos Paulo.
Leia o que disse Marcos Paulo:
“Nós votamos a favor do jogo único, pois iguala muito a final. Independente de investimento, a decisão fica mais equilibrada em uma quadra neutra. Mas eu concordo que para o clube é ruim devido à receita.
No ano passado optaram por final única para transmitir na Globo em horário nobre. E se fez a final única exatamente por causa disso. Esse ano já não vai ter a Globo. Então, não sei até onde isso seria bom para os clubes, né?
Pelo lado do torcedor é uma logística bem ruim mesmo. Sei que para o nosso jogo da semifinal, vai um ônibus com 50 torcedores para Uberlândia. Se a gente chegar na final eu não sei, pois são 900 km de distância até Carlos Barbosa. Essa questão toda tem prós e contras. Se a gente fizesse uma final em Umuarama, a gente estima arrecadar entre R$ 100 e R$ 150 mil”, disse Marcos Paulo, supervisor do Umuarama.
Jaraguá
O Jaraguá foi o único entre os semifinalistas que votou contra a decisão em final única. O clube enfrentará o Pato Futsal, no sábado, na sua Arena e espera receber mais de oito mil pessoas. Fato que se repetiria, se a final fosse em jogos de ida e volta. O superintendente, Junai Roza, acredita que o clube deixará de arrecadar até R$ 300 mil, caso chegue até a final.
“A gente entende a intenção da Liga e dos clubes em buscar mais visibilidade para o esporte, para a modalidade, né? Porém, essa decisão de final única, o Jaraguá foi contra em todas as votações.
A gente entende que está privando o torcedor que acompanha o ano todo a equipe de estar num momento como esse. Nós temos uma média de mais de 3.600 pessoas por jogo na LNF. Nos playoffs a média é mais de 7 mil. E a gente sabe que a dificuldade que vai ser para o torcedor se deslocar até Carlos Barbosa. Nós temos hoje mais de 740 sócios torcedores. E se, caso Jaraguá estiver numa final, a gente não sabe quantos vão conseguir ir na final.
Tu só tem um jogo para definir o campeonato todo. A gente defende que até os playoffs tenham mais jogos para premiar mesmo a melhor equipe.
Além disso, tem a parte comercial e patrocinadores. A gente tem muitos patrocinadores e também eles gostariam de fazer as suas ativações. A gente acredita que a gente deixaria de arrecadar entre R$ 250 mil a R$ 300 mil. Isso seria o retorno direto. Mas uma final envolve outras coisas, como o comércio local, rede hoteleira, que também se beneficia.
Praia Clube
O time mineiro é a favor a final de jogo único. No entanto, sugeriu que a decisão pela escolha da sede da final aguardasse a definição dos semifinalistas para tentar levar a partida para um local onde seja conveniente para os quatro times envolvidos. O Praia Clube é o time que precisaria percorrer o maior caminha. São 1.500 km de distância entre Uberlândia e Carlos Barbosa.
Apesar disso, o técnico Alemão é favorável ao formato.
“Eu não acho ruim de ter a final única, né, eu não acho ruim. Eu estive na final ano passado em Toledo. Um evento sensacional, acho que a Liga consegue divulgar bem a questão desse jogo. Eu só discordo da forma como a Liga faz para escolher a sede. Nada contra Carlos Barbosa, que tem excelente estrutura. Eu acho que a Liga deveria esperar um pouquinho mais, aguardar a definição dos quatro semifinalistas.
Na parte técnica quem perde um pouco é a equipe que tem melhor campanha. Você perde o direito de você decidir dentro da sua casa, com o apoio do seu torcedor. Na logística, a gente teria que viajar quatro dias antes do jogo, mas isso não é o problema. Dificulta para a torcida, que não vai se deslocar”.
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