Produtores do norte gaúcho estimam uma colheita de uva menor em 2024 por causa do excesso de chuva que atingiu a região na época em que acontece o plantio e maturação do fruto. Nos meses de outubro e novembro, por exemplo, choveu 405,4mm e 533,2mm em Passo Fundo, mais que as médias previstas de 239,4mm e 160mm, respectivamente.
A área cultivada nos 42 municípios da região de Passo Fundo corresponde a 549 hectares, uma parte pequena ante os cerca de 47,5 mil hectares plantados de uva em todo o RS, com a maior parte concentrada na Serra Gaúcha. Em Cacique Doble, um dos municípios com maior potencial produtivo da região, de 55 hectares, alguns produtores iniciaram a colheita ainda na terceira semana de janeiro.
Segundo o engenheiro agrônomo da Emater, Amauri Pivotto, as perdas podem chegar a 60%, especialmente na variedade de uva Niágara branca plantada no município. A dificuldade em controlar doenças por causa do excesso de chuva é o principal motivo.
— As uvas do grupo Niágara, híbridas e viníferas sofreram muito porque os produtores não conseguiam entrar com os tratamentos fitossanitários em função do excesso de chuvas, justamente no florescimento da fruta. Assim, muitos cachos acabaram contaminados com o míldio, doença popularmente conhecida como mufa — disse Pivotto.
São as perdas da Niágara branca que devem fazer com que os produtores de uva da região não atinjam as expectativas pré-colheita em 2024. Segundo Aldemir Carrini, agricultor e dono de uma cantina em Cacique Doble, a perda da variedade tende a reduzir a produtividade em 30% a 40%.
— Em média, colhemos 20 toneladas por hectare entre todas as variedades. Mas como é ano de renovação das parreiras, a produtividade diminui, e com esses problemas por causa da chuva vai ficar ainda mais complicado. Se chegarmos a 15 toneladas por hectare nesse ano dá para levantar as mãos pro céu — pontua.
O excesso de chuva também afetou as videiras na região de Frederico Westphalen. Conforme o gerente da Emater regional, Luciano Schwerz, devem ser colhidas de oito a nove toneladas de uva por hectare, cinco a menos da expectativa de 14 toneladas.
— Apesar do produtor ter se preparado para enfrentar esses eventos adversos, ele não teve a janela de aplicação dos produtos contra as doenças, o que consequentemente acabou prejudicando a produtividade — afirmou Schwerz.
No RS, a expectativa é alcançar cerca de 719 mil toneladas de uva na safra 2023/2024, segundo dados da Emater e Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).