A influência da economia nacional e global não deixará de respingar em Passo Fundo em 2024. Depois de se tornar o segundo município gaúcho que mais exportou em 2023, é hora de arregaçar as mangas mesmo em meio aos desafios da economia brasileira previstos pelo Banco Central para o ano que inicia nesta segunda-feira (1).
A projeção do órgão monetário aponta para um cenário desafiador a nível Brasil, com variação do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que antecipa a tendência de inflação, em 3,93%. Isso indica uma pressão inflacionária menor que 2023, mas ainda com capacidade de afetar o poder de compra dos consumidores. O indicador pode atingir o setor de serviços, categoria que abrange atividades como educação e saúde, e que levou a região de Passo Fundo a se tornar a segunda maior economia do RS em 2023, superando a de Caxias do Sul.
Apesar do índice desafiador a nível nacional, o cenário em Passo Fundo com o IPCA pode trazer certo alívio, uma vez que permite uma previsibilidade crucial para o planejamento tanto dos produtores rurais quanto dos empreendedores no setor de serviços, aponta o economista e colunista de GZH Passo Fundo, Julcemar Zilli.
Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) total apresentou uma previsão de crescimento nacional de 1,51%, o que reflete uma expansão econômica modesta. Segundo Zilli, essa taxa sugere desafios estruturais e externos que limitam um crescimento mais robusto na economia brasileira.
O economista cita, ainda, a previsão de câmbio em R$ 5 para cada US$ 1, o que fomenta uma possível desvalorização do real. Esse panorama afeta os custos de importação e gera desafios para empresas dependentes de insumos externos, o que pode contribuir para a inflação.
— O panorama para 2024 sugere desafios econômicos, incluindo inflação afetando poder de compra, crescimento econômico modesto, desvalorização cambial e uma política monetária cada vez mais flexível. Lidar com esses desafios será crucial para equilibrar crescimento e estabilidade, promovendo um desenvolvimento econômico mais sustentável — alertou o economista.
Janela de oportunidades
Ao mesmo tempo, a projeção de 9,25% ao ano da taxa Selic abre caminho para uma postura mais flexível do Banco Central no controle da inflação. O número vem caindo desde agosto de 2023: na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 13 de dezembro, o índice ficou em 11,75% ao ano, por exemplo.
Nessa esteira, vários setores, especialmente os mais dependentes de crédito, podem aproveitar a oportunidade para expandir seus negócios. É essa a expectativa da Acisa Passo Fundo para a indústria. Segundo o presidente da entidade, Evandro Silva, o cenário de investimentos para 2024 soa mais favorável após programas de facilitação de crédito, queda da taxa Selic e a aprovação de financiamentos em infraestrutura e programas dos governos federal, estadual e local em obras públicas, especialmente a partir do segundo semestre.
— Acredito que teremos um ano desafiador onde a capacidade de se adaptar rapidamente a novas tendências, de adotar tecnologias emergentes e de responder às expectativas sociais e ambientais serão essenciais para todos os setores, não sendo apenas desejável, mas essencial para a sobrevivência e prosperidade no mercado de 2024 — afirmou Silva.
A capacidade de adaptação e de adotar tecnologias emergentes para responder a crises e demandas locais é outro passo importante. Segundo Vidolmar Pazinatto, diretor financeiro do Instituto Aliança Empresarial, o uso de inteligência artificial e realidade aumentada estão no caminho para ampliar a agilidade nas entregas e conexão entre empresários dos mais variados setores da cidade.
O instituto lançou em 2023 o Hub Aliança, espaço para networking e impulso à inovação em Passo Fundo. A ideia é que, a partir de janeiro, a estrutura realize diversas ações para atrair ideias empreendedoras e aceleração de programas.
— Para tudo isso acontecer, precisará não apenas do investimento nessas frentes de inovação, mas de uma mudança de cultura com base no incentivo à participação ativa em iniciativas locais e eventos relacionados à tecnologia. Fomentar a troca de conhecimentos e fortalecer a presença na comunidade para uma visão mais abrangente dos negócios é vital — afirmou Pazinatto.
Clima e agricultura
Outro fator determinante para a economia de Passo Fundo em 2024 é o setor agropecuário, o que passa diretamente pela estabilidade climática. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), a expectativa é que a safra de verão ocorra dentro da normalidade, com a retomada nas culturas de soja, milho e pastagens de verão.
— A chuva afetou gravemente o setor, devastando a produção agrícola e impedindo a logística do escoamento pelas estradas rurais. Espera-se que 2024 tenha condições climáticas mais amenas e que o poder público apresente soluções eficientes e suficientes para a recuperação da malha viária rural de Passo Fundo — disse Marinês Scapini Penz, presidente da entidade, que também citou a expectativa pelo aumento da remuneração nos preços da soja e leite e busca por profissionais qualificados para o trabalho rural.
A expectativa para a colheita da soja é melhor do que os últimos três anos, que foram de estiagem no RS, em especial na Região Norte. Como houve excesso de chuva na primavera, muitos produtores deixaram para plantar o grão mais tarde e devem começar a colher a partir de março, apontou o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha.
Até o momento, há evidências de que o fenômeno El Niño estenda seu ciclo até abril. Isso significa que, a partir do quinto mês de 2024, começa o período de transição e o ano termine sem tantas anomalias climáticas extremas como em 2023. Por isso, a projeção é que os cultivos de inverno, como trigo, aveia e cevada, tenham uma condição mais adequada que tiveram para se desenvolver no ano anterior.
— Encerrando o atual fenômeno El Niño, a expectativa é que 2024 seja menos problemático, em especial na primavera. É evidente que episódios como vendavais e chuvas volumosas são comuns na região, mas não com uma influência tão forte como tivemos em 2023 em função do encerramento do El Niño — pontuou Cunha.