O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu, pela primeira vez em três anos, a taxa de juros básicos da economia nacional em 0,5 ponto percentual. Com isso, a Selic volta ao patamar de 13,25% ao ano. Desde agosto do ano passado a Selic estava no patamar de 13,75%.
A decisão do colegiado ocorre após sete reuniões que terminaram sem alterações e reflete as melhorias em alguns fundamentos econômicos. O principal é o atual nível da inflação que, agora, acumula alta de 3,16%, em 12 meses, e voltou a ficar dentro do intervalo previsto pela meta inflacionária para este ano (3,25%, com teto fixado em 3,75%).
O ambiente externo mostra-se incerto, com alguma desinflação sendo observada na margem, mas em um ambiente marcado por núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas.
A exemplo do que já havia ocorrido no último encontro do colegiado, quando o comunicado do Banco Central expressando a opção pela manutenção da taxa surpreendeu, desta vez as atenções também estavam centradas na manifestação após a reunião. A ideia era ter mais clareza sobre o ritmo e o tamanho da flexibilização. E, de acordo com o texto, que considera as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2023, 2024 e 2025 em torno de 4,8%, 3,9% e 3,5%, respectivamente, permanecem fatores de risco em ambas as direções, mas avalia que a melhora do quadro inflacionário, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária.
Sobre a opção pelo nível atual do corte, o comunicado afirma que avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual, em razão da melhora do quadro inflacionário, mas reforçou que manterá uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante.
Na prática, a definição só ocorreu com o voto de minerva (desempate) do presidente do BC, Roberto Campos Neto, uma vez que dos oito diretores com direito à voto, quatro eram favoráveis a uma redução de menor escala, ou seja, em 0,25 ponto percentual. Campos Neto, que tem sido alvo de críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, definiu o tamanho do corte.
A divisão na reunião também gerava dúvidas no mercado, ex-BC, o economista Alexandre Schwartsman era um dos que cravava como impossível que o corte não fosse de 0,50 ponto percentual. Por outro lado, ele diz que a decisão não “será gravada em pedra” e justifica que, por um lado, as previsões do BC indicam movimentos adicionais, caso as expectativas de inflação continuem em queda e não haja surpresa cambial.
Com base no comunicado, o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, que apostava em corte mais moderado, em 0,25%, significa que o BC adota uma postura já verificada nas demais autoridades monetárias do mundo ao não assumir compromissos de outras reduções desvinculadas do avanço de fundamentos macroeconômicos, o que dá certa margem de manobra para ampliar ou reduzir a velocidade dos cortes.
Confira a íntegra do comunicado do BC
"O ambiente externo mostra-se incerto, com alguma desinflação sendo observada na margem, mas em um ambiente marcado por núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Não obstante o arrefecimento dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. As medidas mais recentes de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 4,8%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,9% em 2023, 3,4% em 2024 e 3,0% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,4% em 2023, 4,6% em 2024 e 3,5% em 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê avalia que a melhora do quadro inflacionário, refletindo em parte os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando, no entanto, o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante. A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros: Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes.
* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,75, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom."