O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou, em junho, a primeira deflação em 2023, com o desempenho bastante ligado a um alívio verificado no custo dos alimentos. Mas, enquanto a carne vermelha, por exemplo, apura baixa de 6,73%, no país, e de 3,25%, na Grande Porto Alegre, em 12 meses, outros itens usuais na mesa dos gaúchos não exibem a mesma trajetória.
É o que acontece com o frango comercializado inteiro nos mercados do Estado. Na Região Metropolitana, o produto ostenta alta de 11,58% em um ano, encerrado em junho. Trata-se da maior entre todos os demais locais de referência, utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) na elaboração do indicador oficial da inflação do país. No país, em igual recorte, há redução de 0,98% no período.
No que se refere às aves vendidas em pedaços, no Brasil, os preços estão 3,94% mais em conta. Por aqui, a variação é de apenas 1,31% para menos, a segunda menor oscilação que pode chegar a -3,97% em Fortaleza (CE) e -4,4% em Belo Horizonte (MG).
Mas por que o RS – o terceiro maior produtor nacional de frangos – exibe tamanho descolamento do que acontece na média das outras unidades da federação?
O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, elenca algumas razões. Uma delas está associada ao perfil da demanda interna. É que o Estado responde, hoje, por 15% de participação no setor com cerca de 1,9 milhão de toneladas abatidas – 756 mil toneladas destinadas ao mercado externo. Estimativas apontam que as exportações devem crescer cerca de 3% este ano, mas o percentual não virá acompanhado de incremento na produção. Com menos oferta, passa a valer a principal lógica do mercado: o preço sobe.
Custos em alta
Além disso, entre os balcões de açougues, frigoríficos, revendas e as propriedades rurais há um longo caminho a ser percorrido e, em cada etapa, um acréscimo de custos. Distante dos demais centros dependente do milho – grão que supera 70% na formação da base alimentar das matrizes – os custos gaúchos são mais elevados.
— O RS é deficitário em milho. Precisamos buscar a metade do que utilizamos em outras unidades da federação. Temos um custo maior. Além disso, estamos mais distantes dos centros consumidores, o que também gera um custo adicional para escoar a produção. A gente tem que ver por esse ângulo, resume o dirigente ao lembrar que enquanto o milho teve quase três anos com cotações para cima, o alívio nos preços da saca começou a somente 60 dias.
Santos aponta para mais um fator extra na composição atual dos custos setoriais. Com a confirmação de mais três casos de influenza aviária, o país contabiliza, agora, 74 ocorrências neste ano, a maioria em aves silvestres, como ocorreu no Rio Grande do Sul, mas também em criações de subsistência, a exemplo de Santa Catariana (o que gerou o embargo de entrada no mercado japonês, por exemplo). O panorama, explica Santos, determina mais investimentos em biossegurança.