O governo do Estado divulgou na última semana o balanço das exportações gaúchas nos primeiros cinco meses de 2023. O valor de US$ 8,5 bilhões (R$ 40,6 bilhões) é considerado recorde na série histórica, com alta de 1,2% em relação ao último ano. Dentre os 10 principais produtos comercializados, o grão de soja é o que apresentou maior variação chegando a 42,5% a mais em vendas.
Quando se trata do volume de grãos, o envio para outros países cresceu cerca de 70% neste período. Passando de 1,05 milhão de toneladas em 2022 para 1,7 milhão neste ano. Apesar do grande volume comercializado com o mercado externo, o preço da saca de soja teve grande queda nesta safra. Durante o período da pandemia, produtores chegaram a vender soja na casa dos R$200 a saca e, atualmente, o preço gira em torno de R$120 a R$130.
A queda no preço da soja tem como um dos principais fatores a grande safra que outros estados brasileiros tiveram em 2023, bem como a previsão otimista de uma boa colheita nos Estados Unidos, que é um dos principais produtores do grão no mundo, como explica o economista Julcemar Zilli:
— A queda basicamente está atrelada a uma maior previsão de plantio norte americano, então como há essa previsão de que os Estados Unidos vão plantar mais, a previsão de colheita também aumenta, então aumenta a oferta de produto mundialmente e isso tem feito com que o preço das commodities de uma forma ampla caísse — analisa.
Diante da queda do preço da saca e mais um ano de estiagem, o produtor Augusto Escobar, que cultiva 40 hectares de soja no interior de Passo Fundo, tem encontrado dificuldades para pagar as contas. O produtor já vendeu 80% do que produziu nesta safra, além do que ainda tinha do último ano.
— Com o preço caindo tem que vender um volume maior e ainda contar com o custeio do banco. Tivemos que vender a safra passada pra poder cumprir os compromissos — diz o agricultor.
Preço baixo, produção alta e grande demanda
A safra gaúcha teve neste ano quebra na produção, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita foi 53% menor do que na última safra. Mas em outros estados Brasil a safra foi boa e gerou uma grande produção que, por consequência reduziu os preços e, logo, gerou vendas ao mercado externo. Tanto é, que muitos portos do país não comportaram a demanda extra do grão, desta forma, a produção precisou ser escoada pelo Porto de Rio Grande.
Conforme o presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs), Roges Pagnussat, este uso do Porto de Rio Grande para escoar a soja de outros estados também contribui para elevar o número de exportações a partir do território gaúcho.
— Se vendeu mais, mas a soja que foi colhida neste ano e também foi exportada pelo Porto de Rio Grande. Um grande volume de soja oriundo do Paraná, do Mato Grosso, foram mais de 1,5 milhão de toneladas de soja que vieram desses outros estados para o Rio Grande do Sul, não condizendo então com a colheita que tivemos de soja dentro do nosso estado nesta última safra — aponta.
Apesar da alta na exportação de soja pelo Porto de Rio Grande ser carregada, em sua maioria, por grãos provenientes de outros locais do país, a receita gerada direta e indiretamente é celebrada pelo diretor comercial do Grupo Master, Cristiano do Carmo. A empresa desenvolve negócios desde o plantio, beneficiamento, armazenagem e comercialização de grãos, até fábricas de rações, com forte presença na exportação de grãos.
— Eu acredito que tudo é sempre muito bom. O Rio Grande do Sul ganhou, postos de combustíveis ganharam porque girou mais caminhões, os portos ganharam talvez hospedagem, manutenção, então sempre é positivo para o estado do Rio Grande do Sul, independentemente se a soja for gaúcha ou se for de fora — observa Carmo.
O Augusto, por outro lado, ainda guarda os 20% restantes de sua colheita de 2023 para vender quando o preço da saca de soja voltar a subir.
— Vamos esperar mais um pouco como vai, se dá uma reação dos preços pra poder vender o resto — diz.
Produtos que mais exportaram no RS em 2023
- Soja em Grão: +42,5%
- Carne suína: +36,6%
- Fumo não manufaturado: +16,7%
- Farelo de soja: +14,1%
- Óleo de soja: +6,2%
GZH Passo Fundo
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