Um moinho desativado em pleno centro de Passo Fundo irá se tornar celeiro da modernidade empreendedora da região. Inspirado na atuação dos institutos Caldeira, de Porto Alegre, e Hélice, da Serra, um grupo de empresários locais adquiriu o prédio para transformá-lo em um centro irradiador de inovação corporativa.
A iniciativa é do Instituto Aliança Empresarial, entidade fundada em 2020 como hub universitário para negócios de tecnologia e que agora agrega alguma das maiores empresas do norte do Rio Grande do Sul. Vinte e uma companhias fazem parte do Aliança, somando faturamento de R$ 21 bilhões somente no conselho de administração.
O grupo aportou R$ 7 milhões na aquisição e reforma do moinho, um prédio de três andares e 1.232 metros quadrados erguido em 1939. A previsão é de que as obras estejam concluídas até o final do ano, com preservação de peças remanescentes do maquinário moageiro. As atividades começam logo após a inauguração, com a entrada em operação das primeiras seis startups acolhidas pelo Aliança. Um fundo inicial com R$ 5 milhões foi criado para acelerar os novos negócios.
— Temos parceria com a Bossa Nova Investimentos para identificar startups com potencial de crescimento e estamos criando uma empresa semelhante para fazer nossa própria garimpagem. Queremos incentivar os empreendedores locais — explica o presidente do Instituto, Antônio Roso, dono da Metasa.
O Aliança nasceu na mesa de reuniões do escritório de Roso, em Passo Fundo, por estímulo da empresária Márcia Capellari. Especialista em inovação com impacto social, Márcia idealizou o instituto com foco em incremento nas relações comerciais e no desenvolvimento social.
— Atuamos com dois temas. Um é a inovação aberta, para que as empresas possam trocar ideias e construir programas, em um ganha-ganha de projetos de inovação e transformação de modelo de negócios. O outro é o impacto social, utilizando leis de incentivo fiscal e o apoio dos empresários para olhar a educação e o empreendedorismo de mulheres na periferia — afirma a diretora-institucional do Aliança.
Nesse escopo, ganharão incentivos um núcleo de fomento à governança ambiental, social e corporativa (ESG) e de trabalho feminino. Já estão em andamento projetos visando a produção de plantas frutíferas nativas da região e a criação, por uma cooperativa de costureiras, de ecobags a partir da reutilização de uniformes industriais.
— O objeto é fortalecer o estímulo a uma inovação que seja transversal, englobando toda a cadeia produtiva — resume Erasmo Battistella, presidente da BSBios, fábrica de biodiesel que sozinha responde por 21,89% do PIB de Passo Fundo.
Parque científico e tecnológico na UPF
Não é de hoje, porém, que a inovação pauta as preocupações empresariais na região. Há 10 anos, a Universidade de Passo Fundo (UPF) mantém um parque científico e tecnológico no campus central da instituição. Com três módulos e 4 mil metros quadrados de área, o espaço abriga 17 startups e tem 43 empresas associadas.
Uma das maiores produtoras de máquinas agrícolas do país, a Stara foi uma das primeiras companhias a buscar soluções tecnológicas na UPF. Chegou com quatro estagiários e hoje mantém 30 colaboradores dentro do parque, onde aloca toda sua equipe de engenharia de softwares.
Com 10 programas de inovação em desenvolvimento, a universidade foca em indústria criativa, saúde digital e agrobusiness, servindo como aceleradora de negócios, incubadora empresarial e coworking.
É aqui que a gente entrega a conexão efetiva das startups e do mundo acadêmico com o mercado corporativo. Isso é estratégico para a sobrevivência de qualquer empresa em qualquer cenário.
CASSIANE CHAIS
Diretora de estratégia e relacionamento com o mercado do parque
Uma das iniciativas consideradas mais promissoras é o retinógrafo portátil de baixo custo. Desenvolvido pela oftalmologista Daniela Higuchi em uma startup criada junto com alunos dentro do parque, o equipamento usado na triagem de doenças oculares tem a mesma eficiência e custo 15 vezes menor do que os similares tradicionais. A invenção obteve registro de patente no final de 2022 e está inscrita para seleção no South Summit 2023.
O próximo passo do Parque Científico e Tecnológico é o complexo UPF Valley. A universidade irá oferecer 10 hectares para sediar empresas, em um modelo de negócios ainda está sendo formatado. As obras começam em 2024 e devem prever 25 lotes individuais.
— É aqui que a gente entrega a conexão efetiva das startups e do mundo acadêmico com o mercado corporativo. Isso é estratégico para a sobrevivência de qualquer empresa em qualquer cenário — diz a diretora de estratégia e relacionamento com o mercado do parque, Cassiane Chais.