Passo-fundense e voz de uma das principais bandas de rock do início do século, Beto Bruno é referência pra quem sonha em viver de música. Depois do reconhecimento nacional com a Cachorro Grande, o músico trabalha em discos solos e segue emplacando feitos no rock nacional.
Para comemorar o Dia do Rock, celebrado em 13 de julho, GZH Passo Fundo relembra a trajetória do artista e os patamares que a música o levou a conquistar.
Entre os assuntos, ele fala sobre o início da carreira e a turnê especial em comemoração aos 25 anos da banda que marcou o rock gaúcho e nacional com hits como Dia Perfeito, Sinceramente, Lunático e Que Loucura!. O grupo estará em Passo Fundo neste sábado (13) em show no Gran Palazzo.
Confira a entrevista exclusiva com Beto Bruno na íntegra a seguir.
GZH: como foi o início da carreira até chegar na Cachorro Grande?
Beto Bruno: eu saí de Passo Fundo com 12 anos, quando nos mudamos pra Uberlândia (MG). Por lá eu já fiz meu primeiro show, aos 15 anos. Quando volto para Passo Fundo, em 1994, monto minha primeira banda na cidade, os Malvados Azuis.
O rock ainda tinha uma cena bem underground, mas nos tornamos a principal banda da cidade, tocávamos todos os fins de semana. Essa banda durou até 1999, quando eu me mudo para Porto Alegre e montamos a Cachorro Grande.
GZH: quanto tempo levou até entender que poderia viver da música?
Beto Bruno: eu sempre quis ser artista. Mas só no primeiro disco da Cachorro, em 2001, foi que consegui viver só de música. Antes eu tocava durante o fim de semana, e complementava a renda trabalhando numa loja de discos.
Mas foi só esse primeiro disco chegar nas lojas que estouramos, rodamos para todo o canto do Brasil. Eu nunca me imaginei fazendo outra coisa, se eu não fosse artista não sei o que seria, porque não completei os estudos e até hoje eu vivo disso. E loja de disco não existe mais hoje, então não sei o que estaria fazendo (risos).
GZH: imaginava que o rock te levaria a tantos lugares?
Beto Bruno: a minha ideia, meu plano, era de que seríamos a banda mais importante de Porto Alegre. Mas a Cachorro Grande foi mais do que a principal da Capital, nós tomamos conta do Brasil. Fomos os maiores expoentes do rock do início do século. Fomos a muitos programas de televisão, e éramos a banda da MTV. Atingimos o patamar das grandes bandas brasileiras.
Os últimos gaúchos a terem feito sucesso e rompido essa barreira tinha sido os Engenheiros do Hawaii e a Nenhum de Nós, mas há muitos anos. Então, no começo, quando estourou, a gente não entendia, era algo que era maior que a nossa compreensão.
E eu já tinha passado duas vezes por essa “provação”, fui a principal banda de Passo Fundo, e saí da cidade para ir para a Capital. De Porto Alegre fomos para São Paulo. Segui meu sonho e confiava que fazíamos um som diferente. Nossos shows eram muito bons, a gente dava a vida mesmo. E é um sentimento que eu tenho até hoje, continuo acreditando na qualidade do que faço.
GZH: apesar do sucesso, tu sentes que tiveram alguma dificuldade até a coisa “engrenar”? As bandas da nova geração falam da dificuldade do rock “emplacar” uma vez que as músicas mais tocadas são sempre de outros gêneros. Tu já sentias isso naquela época?
Beto Bruno: olha, sendo bem sincero, esse discurso de que “rock não encontra mais seu espaço” eu ouço desde os anos 1980. Mas tem espaço sim. Façam um trabalho relevante que vai ter espaço. Façam um disco fantástico que não tem como passar despercebido. Faça seu caminho, independente do que está acontecendo.
Quanto a Passo Fundo, é uma cidade que eu tenho muito carinho por todos os anos de infância que passei aí. Mas o meu conselho é que, se você quer que aconteça, é preciso ir para os grandes centros. Eu me dei conta disso e foi a partir daí que deu certo. Nós estávamos há quatro anos lotando os bares de Passo Fundo e não saímos dessa bolha. Já passávamos por esse problema há 25 anos, então é preciso ter coragem e meter a cara.
GZH: como está a nova fase da tua carreira, tem realizado novos sonhos?
Beto Bruno: depois do término da Cachorro, há seis anos, consegui manter minha carreira sozinho, que está super bem sucedida e não parei de fazer show. Já gravei dois discos solos com minha banda nova em São Paulo, que me renderam dois anos de estrada, todo fim de semana.
O meu segundo disco é o meu favorito da vida. Eu pude começar a escrever em primeira pessoa, então desenvolvi meu jeito de escrever. Esse disco entrou entre os melhores discos de rock em 2022 no Brasil. Então, com muita batalha, conquistei meu espaço.
GZH: e sobre a turnê de 25 anos da Cachorro Grande, como está sendo voltar a tocar com a banda?
Beto Bruno: a gente resolveu se juntar para fazer essa turnê de 25 anos, que serão 25 shows. O terceiro será agora, neste sábado (13 de julho), na minha cidade (Passo Fundo). Até agora passamos por São Paulo (SP) e Blumenau (SC), e depois rodaremos as capitais. Na sequência devemos abrir as agendas e confirmar as novas datas, inclusive do show no Araújo Viana, em Porto Alegre. Devemos terminar em São Paulo, em março ou abril de 2025.
Eu estou gostando da aproximação, porque sinto saudade da banda. Eles são minha família, meus irmãos. Tá sendo muito bacana, porque várias feridas estão cicatrizando, e todos acharam que seria um momento bom para gente. O que posso dizer é que eu tô amarrado nessa turnê, e o que posso garantir, por enquanto, é que a Cachorro Grande existirá até abril de 2025, o depois… a gente vê (risos).