Apesar da pouca idade, Maria Clara Garcia de Albuquerque tem chamado a atenção no movimento tradicionalista gaúcho. Com apenas seis anos, a pequena vem se destacando em festivais e rodeios nas provas de declamação, representando o Grupo de Artes Nativas (GAN) Vaqueanos da Cultura, de Soledade.
Em meio ao talento, um detalhe chama atenção: a menina recebeu o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos dois anos de idade. Na época, os sintomas mais presentes eram atraso na fala, dificuldade na interação social e restrição alimentar.
Segundo a mãe, Tatiane Garcia, Maria Clara só começou a falar aos três anos, depois de ter acompanhamento de uma fonoaudióloga. Mas foi através da declamação que a pequena ampliou o desenvolvimento e o vocabulário, uma paixão pelas provas que veio de família.
— Fomos acompanhar minha sobrinha em um festival e a Maria Clara simplesmente virou pra nós e disse “mamãe, eu quero ser igual a prima”. A primeira declamação dela foi em 2022, um pequeno versinho que ela decorou em três dias. Entre as 22 participantes, ficou em sexto. Foi aí que tivemos um estalo e vimos que ela levava jeito — lembra a mãe.
Desde então, a pequena declamadora não parou mais. Maria Clara foi uma das competidoras da categoria pré-mirim durante o 15º Rodeio Internacional de Soledade, que termina neste domingo (18). Ela conquistou o 9º lugar entre 16 competidoras.
Entre as primeiras premiações estão os rodeios de Anta Gorda e Encantado, além das etapas do Festival Artístico da 14ª Região Tradicionalista (Feart). Na última edição que ela participou, em Fontoura Xavier, ficou com o segundo lugar.
“É exemplo para várias crianças”
O Transtorno do Espectro Autista é um distúrbio que altera o neurodesenvolvimento. Assim, capacidades de comunicação, comportamento e interação social são afetadas. Mas, para a família da Maria Clara, a declamação foi apenas mais uma forma de mostrar que o autismo não é um impeditivo ou “rótulo” limitante.
— É a conquista das nossas vidas. Eu tenho certeza que ela é exemplo para muitas crianças e muitas pessoas com qualquer tipo de deficiência. Todos são capazes de fazer o que quiserem dentro das suas possibilidades — ressaltou Tatiane.
A mãe da declamadora vai além. Para ela, o quadro da filha, assim como de outras crianças, pode ser considerado uma “evolução” da impulsionada pelo tradicionalismo gaúcho.
— Se não fosse o autismo, ela não seria ela. Ela tem um foco, uma memorização incrível, lembra de coisas de anos. Para nós, vê-la inserida no tradicionalismo e na sociedade em si, com milhares de pessoas assistindo, é muito gratificante.