A revelação da atriz Letícia Sabatella sobre ser diagnosticada com transtorno do espectro autista (TEA) aos 52 anos atraiu a atenção da sociedade no início desta semana. No entanto, o diagnóstico tardio tende a ser uma realidade cada vez mais comum.
Isso deve acontecer porque os critérios diagnósticos mudaram nos últimos anos, explica Marta Hemb, neuropediatra e doutora em Neurociências:
— Muitas pessoas que têm autismo leve e já são adultas não foram diagnosticadas nas suas infâncias, porque naquela época os autistas eram só os graves, os outros recebiam outros diagnósticos, então é comum e vai ser cada vez mais comum adultos, adolescentes ou mesmo idosos terem diagnóstico, porque tinham outros nomes naquela época, era tímido demais, esquizofrênico, antissocial ou tinha TDAH… e agora a gente sabe que não, que é autismo o nome disso.
Em termos de critérios diagnósticos, o TEA é dividido em níveis de suporte – 1, 2 ou 3. Contudo, em alguns casos, ainda que esteja caindo em desuso, a terminologia adotada pode ser "leve, moderado e grave".
— Formalmente falando, a gente usa nível 1, 2 e 3. Para as pessoas entenderem, a gente usa leve, moderado e grave — explica a médica.
Assim, atualmente, diagnósticos mais leves são realizados – sobretudo em adultos, tendo em vista que os graus moderado e grave são reconhecidos mais cedo. Ainda, com frequência, pessoas com grau leve já conseguiram resolver muitos sintomas característicos ao longo da vida.
Além disso, como o número de diagnósticos aumentou, os pais dos autistas têm se identificado com os filhos e também procuram o diagnóstico – o TEA é uma condição multifatorial e genética, na grande maioria das vezes, conforme a médica. É o caso de Letícia Sabatella, cujo filho foi diagnosticado. Desta maneira, alguns especialistas já atendem tanto o filho quanto algum dos pais.
Sintomas característicos
O sintoma característico mais comum em autistas adultos é a chamada “ressaca social”. Ela acontece quando se fica extremamente cansado depois de uma exposição social, explica a neuropediatra.
— É muito comum os adultos chegarem: “Ah, depois que tenho de ir em uma festa ou jantar, chego em casa e parece que corri uma maratona de tão exausto que estou” — afirma.
Outros sintomas característicos incluem questões sensoriais. Há pessoas que são muito sensíveis a barulho, a alguns tipos de tecidos de roupas, de corte de cabelo ou de unha, ao toque. Algumas também são seletivas em relação a alimentos, não conseguindo comer ou sentir cheiros sem ter náuseas.
— O sintoma tem de vir desde a infância, ninguém vira autista, a pessoa nasce. Talvez por muitos anos ninguém notou — alerta Marta.
Há ainda outro sintoma característico, chamado de mascaramento. Ele acontece quando os adultos aprendem a disfarçar o autismo, desenvolvendo estratégias para parecerem "típicos", como conseguir olhar no olho, socializar, trabalhar em equipe – o que custa um grande esforço. Ele é mais característico em mulheres, o que torna os diagnósticos – que já são raros – ainda mais difíceis.
Caso a pessoa se identifique com algum aspecto do transtorno, deve procurar um neurologista ou psiquiatra, que são os profissionais habilitados a fazer o diagnóstico, usualmente realizado por uma equipe multidisciplinar, que pode incluir psicólogos e outros profissionais. Já o tratamento é direcionado aos sintomas mais aparentes, como a dessensibilização sensorial ou antidepressivos, a depender do caso. Na grande maioria das vezes, o trabalho de dessensibilização e a psicoterapia são suficientes para o tratamento, segundo a neuropediatra.