Uma das apostas do Brasil para reduzir a emissão de gases poluentes, usinas de hidrogênio e amônia verdes devem movimentar o norte gaúcho nos próximos anos — ambiental e economicamente.
Dois empreendimentos, em Passo Fundo e Tio Hugo, estão em fase de aprovação ambiental para construir a estrutura que produzirá hidrogênio e amônia verde na forma líquida. O objetivo é usar o insumo como fertilizante no setor agrícola.
Obtido através da eletrólise, o hidrogênio só pode ser considerado verde quando o processo de produção usa fontes de energia renováveis, como eólica e solar. Hoje, quase todo o hidrogênio usado no Brasil vem do gás natural — uma fonte poluente.
Ao todo, o investimento é estimado em R$ 100 milhões, sendo 60% para a planta de Tio Hugo, que deve ter capacidade de gerar até 4 mil toneladas de amônia por ano. Passo Fundo, onde a estimativa de geração é de 2 mil/ano, recebe o restante da soma.
Há planos de construir estrutura semelhante em Vacaria, mas o processo está menos adiantado.
Conforme o diretor de tecnologia e operações da empresa BeGreen, Luiz Paulo Hauth, que lidera o processo, o investimento é maior em Tio Hugo por causa da capacidade energética do município.
Com pouco mais de 3 mil habitantes, a cidade conta com a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Tio Hugo, a maior usina própria da Coprel, com 10,1MW de potência instalada (o equivalente ao consumo de 21 mil famílias).
— Em Tio Hugo, a Coprel fez um bom investimento na rede de energia, então lá podemos colocar uma planta maior. Já em Passo Fundo, a cidade só tem disponibilidade de energia para gerar esse volume (2 mil toneladas de amônia/ano) — esclareceu Hauth.
Além da construção e mão de obra, o investimento vai para a compra dos equipamentos essenciais ao funcionamento das usinas, com predileção por fornecedores gaúchos. Os itens importados devem ser o eletrolisador (responsável por separar as moléculas de água para captar hidrogênio verde) e o sintetizador de amônia, ambos produzidos na China.
Por que isso importa
A iniciativa é inovadora pois possibilita a produção descentralizada e descarbonizada de amônia, hoje 100% importada de países como Rússia, Belarus e China.
O insumo só chega ao Rio Grande do Sul via transporte marítimo e terrestre — grandes emissores de dióxido de carbono —, e na forma granulada. Quando líquido, há mais facilidade de transporte e uso, por exemplo.
Além disso, os insumos são essenciais para a produção de fertilizante nitrogenado na agricultura e vêm na esteira dos planos de descarbonização do RS e do Brasil em combate às mudanças do clima.
Como está o andamento dos projetos
Usina de Tio Hugo
Está no processo para obter a licença prévia ambiental da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). A estrutura ficará no novo Distrito Industrial, próximo da cidade.
Depois da licença ambiental da Fepam, serão 20 meses para que a estrutura possa entrar em operação. A expectativa é que o documento seja emitido ao longo até dezembro deste ano. Se isso se confirmar, a planta de Tio Hugo começa a operar em 2026, meses antes da usina de Passo Fundo.
Usina de Passo Fundo
Deve ser protocolado no sistema da Fepam em setembro. A planta será instalada no campus 1 da Universidade de Passo Fundo (UPF), onde também funcionará uma usina-escola dedicada à pesquisa e formação de profissionais para atuar na área.
Documentos já foram assinados tanto com a UPF quanto com os dois municípios, mas ainda há contratos pendentes.