Pelo menos dois terços das quase 3 milhões de toneladas de CO2e (gases poluentes equivalentes a dióxido de carbono) emitidas no ar de Porto Alegre em 2013 foram provenientes do transporte. É o que mostra o primeiro Inventário de Emissões Gases de Efeito Estufa da Capital, elaborado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam).
O documento, que deve servir como ferramenta para guiar ações futuras e promover estratégias de desenvolvimento menos poluidoras em diferentes setores da economia, indica ainda que os resíduos sólidos são o segundo maior emissor de Gases de Efeito Estufa (GEE), com 20%, seguidos da chamada energia estacionária (14%), que são as emissões indiretas provenientes do consumo – de energia ou combustíveis.
Para o secretário municipal do Meio Ambiente, Mauro Moura, o resultado do estudo não surpreende.
– É um resultado esperado para uma área urbana. Somos uma cidade de comércio e serviços, e temos um grande problema de mobilidade. Tudo isso tem efeito sobre as emissões – avalia.
Dentro do percentual emitido pelo transporte, quase 80% das emissões são provenientes do transporte terrestre – o restante vem da aviação. O combustível que mais emitiu GEE na Capital durante o período foi a gasolina comum – quase 1 milhão de toneladas –, seguida do diesel – com 480 mil toneladas – e do gás natural veicular – que produziu 66 mil toneladas de CO2e. A constatação não é das melhores, mas segundo o titular da Smam, traz argumentos técnicos para que se discutam alternativas de mobilidade a médio e a longo prazos.
– Porto Alegre tem mais de 800 mil carros circulando, a maioria com um passageiro. Como se evita isso? Oferecendo bons transportes. O bom serviço público faz as pessoas deixarem o carro em casa, mas exige planejamento. Precisamos pensar em um modelo que possa ser posto em prática em 10, 20 anos – diz.
Alternativas menos poluentes ainda carecem de estímulos
O caminho do transporte limpo não somente é longo como deve encontrar obstáculos no próprio modelo de planejamento urbano atual. Na avaliação do engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, presidente da Associação Gaúcha de Protação ao Ambiente Natural (Agapan), a Capital ainda carece de iniciativas que desestimulem o uso do carro e aposta em empreendimentos que forçam o deslocamento das pessoas à região central da cidade em vez de apostar na descentralização das atividades.
– O dado é muito interessante, mas alarmante, considerando os investimentos que estão sendo pensados para o Centro, como o Cais Mauá. O projeto prevê um estacionamento para mais de 4 mil veículos. Isso estimula quem pensaria duas vezes antes de pegar o carro para sair de casa, o que contribui negativamente, porque favorece um aumento de emissões quando se quer minimizá-las – defende.
Professor da Faculdade de Engenharia e pesquisador do Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da PUCRS, Rodrigo Iglesias acredita que é difícil pensar em uma solução a curto prazo para o transporte poluente, já que mesmo as alternativas mais conhecidas ao modelo de propulsão atual, como os carros elétricos, demandam geração de energia – outro poluente. Por outro lado, pondera, se o transporte é o maior problema nos grandes centros urbanos, ele fica para trás no ranking geral de emissores, onde a proporção se inverte: dois terços dos GEE do planeta são emitidos por fontes estacionárias.
– A questão do transporte é mais particular dos centros urbanos, porque eles já não abrigam mais as indústrias e usinas de energia, que são os que mais poluem. Mas, mesmo com a melhora do transporte público, é preciso mudar a forma de propulsão dos veículos. E isso ainda é tímido, mesmo nos países desenvolvidos. Leva um tempo considerável – projeta.