Por Erasmo Carlos Battistella, CEO e presidente da Be8
Grandes transformações não acontecem por um só motivo. Elas são resultado de várias forças — vindas de diferentes frentes, mas sempre em torno de um propósito único.
Vejam o caso do agro, por exemplo: um setor que cresceu enormemente nas últimas décadas e tem sido o dínamo da economia brasileira. Isso ocorre não por um fator, mas pela soma de diversos agentes que vão desde o empreendedorismo dos produtores e o apoio das gestões públicas até a abertura de mercados externos.
A próxima grande transformação que nosso país deve protagonizar já está bem clara: a transição energética. Há um alinhamento que permite essa visão.
Por um lado, já somos uma grande potência no setor, tendo uma das matrizes mais limpas do mundo; igualmente, a força do nosso agro, cada vez mais inovador e competitivo, permite avanços em segmentos como o dos biocombustíveis.
E tudo isso está ligado a uma demanda crescente e economicamente favorável das nações desenvolvidas, cujos compromissos climáticos abrem excelentes perspectivas.
Tivemos uma sinalização muito positiva neste sentido, com a aprovação do projeto de lei "combustível do futuro" pelo Senado na semana passada e na quarta-feira (11) pela Câmara dos Deputados.
Como objetivo principal, o PL pretende estimular a descarbonização da matriz energética do transporte no país, com o aumento da mistura de biodiesel ao óleo diesel, a elevação do percentual de etanol na gasolina e outras medidas.
Por consequência também estimulará ainda mais a indústria e este processo de abertura do Brasil para o mundo em uma área chave para o fortalecimento da nossa economia diante do contexto global.
Nosso país e Estado, portanto, têm em mãos uma oportunidade de ouro: conduzir o mundo no desafio de reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Um protagonismo que vai além das palavras e do discurso, mas que traz riqueza, novos mercados e um importante legado para as novas gerações.
A produção e a venda de energia renovável abre espaço para uma renovação importante da nossa indústria — mais conectada à nova economia, com tecnologia e competitividade.
Um dos caminhos para isso é o etanol. Há quase quatro décadas, ele foi estruturante para o desenvolvimento do interior do estado de São Paulo. E o Rio Grande do Sul também pode avançar nesse sentido. No norte gaúcho, começamos a construir a primeira usina de etanol de trigo do Brasil.
Além de produzir um combustível limpo, a iniciativa estimulará o plantio de um grão de inverno e garantirá uma nova alternativa de renda de valor agregado aos produtores.
Eis um dos exemplos dentre tantos que essa janela de oportunidade nos dá. Mas ela, por si só, não garante o futuro. Como em outras grandes transformações, precisamos de união e foco em torno de um propósito: estimular a inovação, o ensino, a pesquisa e a infraestrutura para que essas iniciativas se tornem realidade.
E para que o país — e, em especial, o Rio Grande do Sul — seja não apenas o garantidor da segurança alimentar, mas também da sustentabilidade energética do mundo.
Erasmo Carlos Battistella é CEO e presidente da Be8. Entre em contato através do e-mail erasmo.carlos@be8energy.com.