Os desafios do Rio Grande do Sul na área de capital humano não são para o futuro. São para agora. Com o mercado interno aquecido e o desemprego em patamar bastante baixo para os padrões históricos nacionais, a escassez de mão de obra se consolida como uma adversidade que tem de ser enfrentada com um olhar combinado de curto e de longo prazo. A demografia é um agravante. Os gaúchos envelhecem em um ritmo superior aos demais brasileiros. Conforme o IBGE, a população do Estado deve começar a cair em 2027.
É preciso estancar a evasão da força de trabalho, nos mais diferentes níveis de qualificação, e inverter esse fluxo
Sondagem da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) mostrou que, no terceiro trimestre, o custo ou a falta de mão de obra qualificada foi um gargalo apontado por 27% dos empresários do setor. Ficou entre as principais adversidades citadas pelos industriais no período, em um nível não visto há mais de 10 anos. A escassez de pessoal não afeta apenas a manufatura. É disseminada nos meios rurais e urbanos. Se observa em diversos outros tipos de atividades, como a construção civil e o comércio e em especial em áreas que exigem ainda mais conhecimento, como as ligadas à inovação e à tecnologia. Mesmo para tarefas que não precisam de maiores habilidades ou escolaridade, há dificuldade para recrutamento.
O caso do Rio Grande do Sul revela dificuldade tanto de disponibilidade quanto de qualificação do trabalhador. Na apresentação do Plano de Desenvolvimento Econômico, Inclusivo e Sustentável do Estado, duas semanas atrás, foi mostrado um dado impactante. Nas últimas duas décadas, a taxa de avanço populacional foi impactada por um movimento emigratório líquido de cerca de 700 mil indivíduos. Ou seja, muito mais gaúchos deixaram o Estado do que a quantidade de pessoas que imigraram para cá. A enchente de maio despertou o temor de um novo êxodo.
É preciso estancar a evasão da força de trabalho, nos mais diferentes níveis de qualificação, e inverter esse fluxo. Na mesma apresentação, o representante da McKinsey, consultoria que colaborou na elaboração do plano, pontuou que será mandatório para o Estado atrair trabalhadores de outros lugares. Imigração, sabe-se, é um tema hoje explosivo em todo o mundo. Ainda assim, é preciso considerar a conveniência de incentivá-la. Em um evento na Federasul, no final do mês passado, o prefeito reeleito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, afirmou que, se não fossem os trabalhadores venezuelanos, os frigoríficos do município não estariam produzindo por falta de mão de obra.
A retenção de capital humano, por outro lado, requer que o Rio Grande do Sul passe a ser percebido pelos jovens como um lugar de qualidade de vida, com economia diversificada, bom ambiente de negócios e aberto à inovação. Ou seja, que aqui podem ser encontradas oportunidades profissionais promissoras. A demografia também obriga a dobrar a aposta na educação. Elevar a aprendizagem, com mais escolas de tempo integral e valorização do Ensino Técnico, é basilar para formar trabalhadores mais conscientes, criativos e produtivos.
O que não falta no Rio Grande do Sul é dissecação dos entraves ao desenvolvimento. Mas ainda falta vencer a inércia para tirar do plano das intenções as medidas necessárias para remover esses obstáculos.