Não pode ser aceito como uma inevitabilidade o prazo previsto para o aeroporto Salgado Filho reabrir. De acordo com a Fraport e o governo federal, seria possível retomar as operações a partir da segunda quinzena de dezembro. É um período demasiado longo, capaz de retardar a recuperação do Rio Grande do Sul e legar sequelas econômicas graves.
Como as reuniões e avaliações técnicas prosseguem, convém acreditar que concessionária e poder concedente se esforçarão mais para encontrar soluções inovadoras de engenharia e de tecnologia para abreviar essa espera. Sem que isso represente qualquer comprometimento à segurança na pista e nas demais atividade aeroportuárias. Empresa, autoridades e órgãos ligados à área devem demonstrar desconforto com o prazo informado na segunda-feira e empenharem-se para que, em breve, seja possível comunicar à sociedade gaúcha uma revisão do período de restabelecimento do Salgado Filho.
O Estado será lesado de forma brutal se a retomada das atividades do Salgado Filho demorar mais seis meses
O Estado será lesado de forma brutal se a retomada das atividades do terminal demorar mais seis meses. A oferta atual de transporte aéreo, incluindo as alternativas no Interior e na Base Aérea de Canoas, está muito aquém da demanda. De acordo com o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, o Rio Grande do Sul contaria desde o final de maio com 134 voos emergenciais. Antes de ser alagado, o aeroporto da Capital tinha 165 voos comerciais por dia. Os números falam por si.
A disponibilidade de uma quantidade muito menor de conexões aéreas não resulta apenas em passagens mais caras. Uma grande variedade de segmentos é severamente prejudicada neste momento, e a incerteza para os próximos meses pode ter repercussões bastante sérias na atividade econômica, na renda e no emprego. Setores como turismo, hotelaria, eventos, cultura e viagens corporativas, entre outros, estão paralisados ou com um movimento muito abaixo do normal. Seria desastroso manter este cenário até o final do ano.
O Salgado Filho também movimenta um volume significativo de mercadorias. São cargas que partem e chegam ao Rio Grande do Sul de outros Estados e do Exterior. Mais seis meses de aeroporto fechado representariam um custo logístico extra que encarece produtos e abala a competitividade das empresas gaúchas. Maior dificuldade de fazer negócios se traduz em risco de evasão de companhias e êxodo de capital humano. Trata-se de um cenário sombrio para o futuro que tem de ser evitado.
É legítimo que a Fraport, detentora da concessão, busque o reequilíbrio financeiro do contrato em função de uma paralisação que não deu causa. Assim como ocorreu na pandemia. No caso da crise sanitária, a União e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reconhecem a companhia como credora de cerca de R$ 290 milhões. Mas o acerto de contas ainda não ocorreu. Deve-se acelerar esse processo, assim como as negociações relacionadas às perdas com o alagamento, para a concessionária ter maior segurança para fazer os investimentos necessários.
De outra parte, enquanto empreendem-se os esforços pelo Salgado Filho, precisam ser encontrados meios para ampliar as operações de voos comerciais na Base Aérea de Canoas, pela proximidade da Capital. Parte das atividades militares poderia ser temporariamente transferida para Santa Maria, liberando mais estrutura para a aviação civil. A base de Canoas vai passar de cinco para 10 voos diários a partir do dia 10. A quantidade ainda está bastante distante do mínimo razoável para as necessidades do Rio Grande do Sul. O quadro atual é quase de isolamento aéreo pela limitação do número de pousos e decolagens. Não há como se conformar com esta situação.